No setor de alimentação fora do lar, muitos empreendedores nutrem a expectativa que seus bares e restaurantes conquistem todo o Brasil. Já de antemão o caminho para expansão não se revela como um trajeto fácil a ser percorrido; o processo exige mais do que abrir unidades em novas localidades.
É necessário colocar o “pé no chão” para entender as oportunidades e desafios em concretizar a realidade de expansão. Sem uma organização eficiente, transformar o desejo de novas unidades em algo concreto pode ser uma tentativa frustrada.
Foi a partir de uma estratégia eficiente que a rede de botecos carioca Mané planejou e executou a sua última expansão de mercado. Em dezembro de 2024, a rede inaugurou a primeira unidade fora do estado do Rio de Janeiro; o local escolhido foi São Paulo, em Alphaville, Barueri. Para entender o percurso de expansão da rede Mané, é essencial explorar dois pilares que transformaram expectativas em realidade: planejamento estratégico e pesquisa de mercado.
Por trás da expansão
Pensando em um planejamento que podem nortear o caminho da expansão, o primeiro passo é definir o modelo de negócio: lojas próprias ou franquias.
Para a diretora de expansão da Franquia Ideal, Bruna Oliveira, essa escolha impacta diretamente no nível de controle e nos desafios logísticos enfrentados ao longo do processo. Ainda, a especialista aponta que o crescimento em espiral — expandir gradualmente para regiões próximas ao ponto de origem — é a estratégia mais saudável no processo de abertura de novas unidades.
“O crescimento em espiral é considerado mais saudável para o negócio em qualquer modelo de expansão. Nesse formato, a expansão ocorre de maneira mais gradual, permitindo maior controle sobre as unidades”Bruna Oliveira
Já o crescimento a nível nacional, embora sedutor por sua velocidade, requer cautela redobrada; é o que afirma a especialista. A expansão agressiva, com investidores em diversas regiões do país, pode levar a desafios como falta de alinhamento com franqueados ou uma gestão desordenada.
Quem adotou um modelo cauteloso de expansão foi a rede de botecos carioca Mané. A rede nasceu a partir do interesse de três sócios - Daniel Bittencourt, Arianne Bastos e Eduardo Oliveira – que apreciavam a cultura de boteco e decidiram inaugurar a primeira unidade da rede Mané, em 2019, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, capital.
Desde então, a rede optou por caminhar por um processo de expansão gradual no território carioca. Ao todo, apenas no Rio de Janeiro, são 27 unidades.
A partir de um caminho natural de expansão, surgiu uma demanda do público em unidades do Mané em outros estados do país.
“Houve uma demanda orgânica de interessados de diversos locais do país. Isso sinalizou a necessidade de estruturarmos um plano de expansão para as regiões mais aderentes e receptivas à marca”. Arianne Bastos
Identificando o novo mercado
Embora o planejamento do modelo de expansão e o ritmo de crescimento sejam decisivos para o sucesso, uma etapa crucial para dar continuidade ao processo é a identificação de mercados promissores.
Segundo Bruna Oliveira, a escolha do local para abrir uma nova unidade de um bar ou restaurante é uma das etapas mais críticas do processo.
“Avaliar o ponto comercial é a principal análise na hora de explorar um novo mercado. Ele é determinante para o sucesso do negócio”, explica a especialista.
Hoje, as tecnologias de geomarketing têm se tornado aliadas indispensáveis nesse processo. Ferramentas que analisam as praças comerciais são amplamente utilizadas por empresas especializadas em expansão e oferecem uma análise robusta de mercado.
De acordo com Bruna, esses softwares fornecem dados detalhados, como potencial de consumo, fluxo de passantes, perfil demográfico da região, tipos de negócios locais e concorrência, permitindo que os empresários tomem decisões embasadas.
No entanto, Bruna alerta que a análise tecnológica, por mais avançada que seja, não substitui a observação presencial.
“É essencial que o empresário vá até o local para uma avaliação mais minuciosa. Nada substitui o olhar atento ao ambiente, à dinâmica de movimento e à percepção do público que frequenta a região”, explica Bruna.
Adaptação ao novo cliente
E quando os números apontam o caminho, o próximo passo é entender como adaptar a marca ao novo público sem perder sua essência, um desafio que vai além da escolha do local e envolve a própria operação do negócio.
Segundo Arianne Bastos, a expansão do Mané para outros estados, como São Paulo, demandou uma estratégia focada na preservação do padrão de qualidade e da experiência que define a marca.
“Para mantermos o padrão e a qualidade do Mané em qualquer lugar do país, estabelecemos a regra de sempre ter um operador à frente do negócio. Esse operador precisa estar presente constantemente, assegurando o bom andamento da operação”.Arianne Bastos
Para Arianne, essa atenção permite que a rede se expanda sem perder a autenticidade. É um exemplo claro de que, mesmo ao conquistar novos mercados, é possível fortalecer a marca sem diluir sua essência.
"Atenção meticulosa aos detalhes é o que permite à rede expandir sem perder a autenticidade que conquistou o público original," Arianne Bastos
E para bares e restaurantes que buscam replicar esse modelo de sucesso, a chave está em um tripé sólido: conhecer profundamente o novo público, investir em processos de padronização e assegurar um treinamento consistente.