Ter boas ideias para um negócio é um bom começo, mas transforma-las em realidade exige esforço, planejamento e uma boa estratégia de marketing que desperte conexões com os clientes. Durante o 37º Congresso Abrasel, Peu Magalhães e Jonathan Albuquerque se reuniram para discutir como transformar negócios através da experiência e construir marcas fortes.
“Eu ouvi em uma das palestras da Abrasel esse dado que é trágico: 50% dos restaurantes fecham até o segundo ano e 80% dos restaurantes fecham até o quinto ano. Existe uma missão aqui, uma disputa, um desafio. Eu preciso sobreviver mais do que 5 anos. E virou uma pira na minha cabeça que eu não podia quebrar. Pelo menos antes de 5 anos", contou Magalhães em sua fala.
Peu Magalhães não só sobreviveu aos primeiro cinco anos como construiu o Grupo Hedge e, junto com Albuquerque, são co-fundadores de restaurantes como Red Burger, Purgatório, Casa Iryna e Pirambeira, que compartilham uma trajetória de sucesso na capital baiana.
“Hoje a gente tem nove operações em geral em Salvador. Faturamos de serviço 35 milhões de reais por ano, somando todas as operações de A e B. Mas nem tudo era tão bonito quando começou”, pontuou Magalhães.
Marketing para além do óbvio
Foi diante desse desafio, que o Grupo Hedge, de Salvador, construiu um modelo de sucesso baseado em uma filosofia que vai muito além do cardápio: a obsessão pela experiência do cliente.
"Todos os nossos negócios que vocês vão conhecer hoje tem como base impressionar, conquistar e construir uma comunidade desde o primeiro segundo", destrinchou Magalhães.
Para além de uma ideia genial que saia do papel, o negócio precisa render dinheiro. Entre as ações assertivas do grupo, o palestrante citou a famosa ação da Red Burger, na qual 14 clientes tatuaram o logo do touro da marca para ganhar 50% de desconto vitalício.
"Marketing não era só legal e bonitinho. Ele gera mais faturamento, construção de comunidade, engajamento e aumenta a longevidade", disse Magalhães
Jonathan Albuquerque, que trouxe sua expertise em coquetelaria após uma passagem pelo Canadá e descreveu o case do Purgatório. O bar possui estilo speakeasy com endereço secreto. “Depois de 1930, esse termo e esse estilo de bar se difundiu no mundo inteiro e aí nasce o Purgatório. Ele tem um primeiro conceito na Divina Comédia de Dante Alighieri. O inferno é muito gritante, então a gente escolheu o Purgatório”, contou Albuquerque.
O conceito do bar se baseia em uma experiência misteriosa e exclusiva, tornando-se um sucesso em Salvador. O espaço possui apenas 52 lugares e o cliente só recebe o endereço do local 4 horas antes do horário da reserva. Esse método desperta o sentimento de “escassez” no consumidor, criando uma demanda constante.
Criatividade sem medo
A combinação entre uma estética e um conceito se estende a outros negócios, como o restaurante italiano Casa Iryna e o boteco Pirambeira.
Existem diversas casas italianas e a concorrência é grande, por isso o Casa Iryna se posicionou como um italiano moderno. A grande aposta do grupo foi criar o “primeiro chopp de Aperol Spritz do mundo”, uma ideia que despertou a curiosidade e atraiu visibilidade do público.
No Pirambeira, a estratégia foi recuperar uma tradição do chopp com colarinho, aquela espuma branca em suspensão na cerveja. O chopp “perfeito”, com o colarinho é mais barato, custando R$ 10,90, enquanto o "imperfeito" (sem colarinho) custa R$ 13,90. A ideia de Albuquerque e Magalhães foi educar os clientes criando uma espécie de disputa.
Inicialmente polêmica, a ideia virou uma brincadeira divertida que dividiu a cidade e gerou um debate contínuo nas redes sociais. Peu Magalhães resume a intenção por trás da ação.
"A gente como empreendedor tem a obrigação de educar. [...] Isso foi um projeto de marketing mas virou um fenômeno de resenha em Salvador e dividiu a cidade entre amantes do chopp imperfeito e amantes do chopp perfeito. O cara percebesse que ele estava cometendo um erro pedindo o chopp perfeito."
A dupla ainda criou um produto para chamar de seu, o licor Royal Charlotte, apostando com tudo na originalidade e homenageando a região Sul da Bahia. A bebida é feita de fino de mel de cacau e especiarias. O nome faz referência ao banco de areia Royal Charlotte e a Mata Atlântica.
Apesar de terem investido na experiência, no marketing e em estratégias de encantamento do público que aparecem em segundo plano para muitos empreendedores, a dupla reforça que foi a escolha certa e aconselha: “Tente construir uma experiência que faça o seu cliente atravessar a cidade, o estado ou o país para poder conhecer você. E é isso que a gente tenta fazer”, completou Magalhães.