Apesar de representarem quase metade da força de trabalho no setor de alimentação fora do lar, as mulheres na cozinha ainda enfrentam barreiras para alcançar cargos de liderança . Mesmo altamente qualificadas, muitas mulheres esbarram em preconceitos, na falta de oportunidades e na necessidade constante de provar sua competência.
Segundo um estudo da FGV em parceria com a Abrasel, 49% da força de trabalho formal do segmento é feminina, mas apenas 7% das cozinhas dos estabelecimentos mais renomados do país são comandadas por mulheres, de acordo com o site especializado Chef’s Pencil. Essa discrepância entre presença e liderança de mulheres na cozinha reflete um desafio estrutural no setor e evidencia o longo caminho que ainda precisa ser percorrido para garantir equidade e representatividade.
A luta por esse reconhecimento foi tema central do evento "Fogo Alto: Jogando luz sobre a gastronomia feminina", realizado em Belo Horizonte (MG). O encontro reuniu especialistas para discutir os desafios que impedem mais mulheres de assumirem protagonismo no setor e como a mudança pode ser impulsionada pela união feminina e pela visibilidade na mídia.
A jornalista e curadora gastronômica Lorena Martins, mediadora do painel, reforçou a importância de levantar o debate não apenas em março, durante o Mês da Mulher, mas durante todo o ano.
"Precisamos falar sobre isso, debater e dar voz às mulheres na gastronomia. Não há outra forma de iniciar essa mudança se não trouxermos essas pautas para o centro das discussões, especialmente na mídia", destacou.
O peso da validação constante
Para muitas profissionais da área, um dos maiores desafios não é apenas ocupar um espaço, mas ter que provar repetidamente sua competência. A jornalista e curadora gastronômica Carol Daher, do projeto Fartura, ressaltou que as mulheres muitas vezes precisam reafirmar sua capacidade em um setor historicamente dominado por homens.
"É muito ruim a gente ainda ter que lutar para provar o que somos, apenas por causa do gênero. Precisamos mudar essa realidade, nos unir, apoiar umas às outras e agir com cuidado e empatia", afirmou.
O impacto da liderança feminina
Quando as mulheres assumem o protagonismo, a forma de gerir uma cozinha também se transforma. A chef e empreendedora Ju Duarte, à frente da Cozinha Santo Antônio, trouxe um exemplo real dessa mudança ao compartilhar sua experiência.
O restaurante, aberto poucos dias antes da pandemia, passou por um momento decisivo quando a equipe masculina deixou o time. As mulheres permaneceram e, a partir daí, a cozinha passou a ser exclusivamente feminina. Para Ju, essa transição mostrou a força da energia feminina na gastronomia e como a gestão entre mulheres fortalece o ambiente de trabalho.
"Passamos um tempo apenas entre mulheres, e foi nesse período que compreendi a força dessa energia dentro da cozinha. Nossa equipe é barulhenta, alegre, forte e poderosa", contou.
Além do impacto na gestão, a chef também ressaltou a importância da representatividade. "Acredito que devemos aproveitar todas as oportunidades para marcar presença, refletir, lutar e reafirmar a importância da mulher na gastronomia", afirmou.