A fermentação, uma técnica ancestral de conservação e transformação, está ganhando espaço como uma ferramenta para trazer mais sabor para a gastronomia brasileira. Longe de ser apenas uma tendência ou um "fetiche" restrito a restaurantes de alta gastronomia, a fermentação demonstra um potencial imenso para otimizar operações, aumentar a lucratividade e agregar valor criativo a qualquer tipo de estabelecimento, desde bares tradicionais a cafés e brunches modernos.
Em conversa com Danilo Viegas para o podcast O Café e a Conta, a chef Carol do Carmo, consultora e especialista em fermentação, compartilhou um pouco da sua história e conhecimento sobre a técnica.
A princípio, Carmo ressalta que o maior gargalo para a adoção da fermentação no mercado de bares e restaurantes é a falta de conhecimento sobre seu potencial como ferramenta de gestão. A especialista na área, enfatiza que a técnica vai muito além da estética e do sabor, sendo uma aliada poderosa na saúde financeira de um negócio.
B&R: Você sente que é preciso falar ensinar sobre desafios e oportunidades de aumentar o faturamento com o uso da fermentação?
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Outro ponto trazido pela chef é o modo como os donos de bares podem utilizar da técnica para impulsionar os seus negócios. Ela traz a ideia que além da possibilidade de usar o quesito estético, com potes a mostra e uma estufa-fria, relembra que, por vezes, a fermentação pode ser inserida de modo discreto na rotina do negócio.
Nós estamos gravando aqui em Belo Horizonte–MG, que tem uma cultura de botequim muito famosa. Queria que você falasse um pouco sobre os exemplos de como a fermentação pode entrar nesses bares, seja qual for o tamanho. A coisa dos potes na parede, da própria estufa-fria é a primeira coisa que a gente imagina, mas a fermentação pode estar da porta para dentro, do balcão para dentro da cozinha. Ela nem precisa aparecer, as pessoas nem precisam saber que você fermenta. Vou dar um exemplo: na nossa operação em Trancoso–BA, a gente manipulava muitos tomates, cerca de150 quilos de tomates por semana. Então eles chegavam, tínhamos um protocolo de lavar, cortar ao meio, colocar no saco a vácuo e fermentava todos eles de um dia para o outro. Não tínhamos nenhuma perda de tomate, reduzindo a perda de tomate a zero. E ninguém nem precisava saber que isso era fermentado de fato. |
Para que o processo ocorra de maneira efetiva, é necessário que toda a equipe esteja alinhada. Assim, Carmo pontua que o treinamento dos colaboradores ocorra corriqueiramente, como em qualquer operação. Entretanto, quando a fermentação está no cardápio, a equipe entender o processo agrega para todos envolvidos no negócio.
Usando esse exemplo da operação em Trancoso, há também a possibilidade, ou a necessidade, do treinamento da equipe. Queria que você falasse um pouco mais sobre isso. O treinamento da equipe tem que ser uma constante em qualquer operação. Então, quando um processo de fermentação era incluso no cardápio, a equipe toda acompanhava a produção daquilo para entender como aquilo funcionava, entender os princípios básicos. Isso, com certeza, agregou para carreira deles, mas de fato é um treinamento a mais. Só que é o que digo, é muito mais simples do que parece. Parece muito complexo, mas eu prometo que não é. |
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Além da redução de desperdícios, a fermentação também é um otimizador de espaços. Carmo pontua que a técnica possibilita que utilizar dos espaços do refrigerador e prateleiras de modo mais preciso.
Quando a gente fala também de espaço físico, do que a gente está falando que é preciso para fermentar as coisas? A fermentação, na verdade, te ajuda a reduzir a sua necessidade de espaço físico. Principalmente quando você fermenta em saco a vácuo, você usa muito menos espaço. O que você precisa, na verdade, às vezes uma prateleira e um espaço fresco do seu estoque seco. Mas não é uma coisa que vai te demandar um espaço externo. É uma coisa que você consegue aplicar agora com a estrutura que você tem. |
Assista ao episódio #123 do podcast O Café e a Conta e aprenda mais sobre fermentação com a especialista Carol do Carmo.