Fora do lar, dentro do negócio
Última edição

Saulo Jennings expõe o preconceito gastronômico contra o Brasil

Não há nada mais sustentável do que comer o que se produz localmente, respeitando os ciclos da natureza e os saberes dos povos. E nisso, o Brasil dá aula. Na foto, o tradicional Tambaqui da região norte do País. | Foto: Danilo Viegas

Tempo de leitura 5

No polêmico jantar vegano para o príncipe William, chef paraense denunciou o apagamento das culturas alimentares tradicionais em nome de um ‘veganismo’ que serve mais ao marketing europeu que à sustentabilidade real

Danilo Viegas 04/11/2025 | 17:23

Vou direto ao ponto: na polêmica entre Saulo Jennings e o famigerado pedido do menu sem carne num evento pré-COP30, o chef paraense está certo. E digo mais. O gesto - que à primeira vista poderia parecer uma simples divergência de cardápio -  revelou-se um ato de resistência cultural e política. Nesse sentido os gringos precisam nos respeitar e quem sabe aprender com a gente. Salve, Saulo!

Se você não pegou o contexto, te explico. Nos preparativos para a COP30, o chef paraense Saulo Jennings foi pressionado a excluir qualquer ingrediente de origem animal do menu para um jantar vegano para o príncipe William. Jennings, que há anos pesquisa e valoriza os saberes alimentares da Amazônia, recusou.

Jennings não apenas defendeu os peixes amazônicos — símbolo de subsistência, identidade e economia regional — como também expôs o preconceito gastronômico disfarçado de ativismo ambiental que ainda paira sobre a culinária brasileira.

E fez mais: denunciou o apagamento das culturas alimentares tradicionais em nome de um veganismo que, em muitos casos, serve mais ao marketing europeu do que à sustentabilidade real.

Ativismo gourmet

Você pode até discordar (é até saudável!), mas pra mim, ficou claro: a exigência de um jantar vegano foi uma tentativa de impor uma visão de mundo que ignora contextos locais, saberes ancestrais e realidades socioeconômicas. 

No norte do Brasil, o pescado não é luxo — é base alimentar, fonte de renda e elo cultural. Exigir sua exclusão é, na prática, deslegitimar modos de vida inteiros.

Jennings, ao se recusar a ceder, não atacou o veganismo. Atacou sua instrumentalização elitista. Como ele mesmo afirmou à BBC Brasil, “não é possível falar de sustentabilidade excluindo os povos que vivem da pesca artesanal”. E está certo. O veganismo, quando imposto sem diálogo, torna-se uma nova forma de colonialismo — agora gourmet.

A gastronomia como território de disputa política

A cozinha pode claramente ser palco também de disputas simbólicas. E o Brasil, com sua estrondosa diversidade alimentar, não pode continuar abaixando a cabeça para padrões europeus que desqualificam nossos ingredientes, modos de preparo e histórias. 

É preciso dizer com todas as letras: não há nada mais sustentável do que comer o que se produz localmente, respeitando os ciclos da natureza e os saberes dos povos. E nisso, o Brasil dá aula.

Empresários da gastronomia do todo o Brasil, uni-vos

Para os donos de bares e restaurantes, especialmente os que atuam em regiões com forte identidade alimentar, o episódio é um alerta. A pressão por menus “globais”, “instagramáveis” e “politicamente corretos” não pode apagar a autenticidade dos nossos pratos. Defender ingredientes locais — mesmo que não veganos — é defender empregos, cultura e soberania.

Jennings não foi arrogante. Foi corajoso. E seu gesto deve inspirar uma nova postura: menos submissão ao gosto estrangeiro e mais valorização da nossa própria cozinha. Avante!

Este texto tem caráter opinativo. As ideias e conceitos expressos no artigo são de inteira responsabilidade do autor. 

 

tags

Assine gratuitamente nossa newsletter

E descubra os segredos dos melhores bares e restaurantes!

Ao enviar seus dados, você concorda com os Termos e Condições e Políticas de Privacidade do Portal B&R.

Relacionados