Vou direto ao ponto: na polêmica entre Saulo Jennings e o famigerado pedido do menu sem carne num evento pré-COP30, o chef paraense está certo. E digo mais. O gesto - que à primeira vista poderia parecer uma simples divergência de cardápio - revelou-se um ato de resistência cultural e política. Nesse sentido os gringos precisam nos respeitar e quem sabe aprender com a gente. Salve, Saulo!
Se você não pegou o contexto, te explico. Nos preparativos para a COP30, o chef paraense Saulo Jennings foi pressionado a excluir qualquer ingrediente de origem animal do menu para um jantar vegano para o príncipe William. Jennings, que há anos pesquisa e valoriza os saberes alimentares da Amazônia, recusou.
Jennings não apenas defendeu os peixes amazônicos — símbolo de subsistência, identidade e economia regional — como também expôs o preconceito gastronômico disfarçado de ativismo ambiental que ainda paira sobre a culinária brasileira.
E fez mais: denunciou o apagamento das culturas alimentares tradicionais em nome de um veganismo que, em muitos casos, serve mais ao marketing europeu do que à sustentabilidade real.
Ativismo gourmet
Você pode até discordar (é até saudável!), mas pra mim, ficou claro: a exigência de um jantar vegano foi uma tentativa de impor uma visão de mundo que ignora contextos locais, saberes ancestrais e realidades socioeconômicas.
No norte do Brasil, o pescado não é luxo — é base alimentar, fonte de renda e elo cultural. Exigir sua exclusão é, na prática, deslegitimar modos de vida inteiros.
Jennings, ao se recusar a ceder, não atacou o veganismo. Atacou sua instrumentalização elitista. Como ele mesmo afirmou à BBC Brasil, “não é possível falar de sustentabilidade excluindo os povos que vivem da pesca artesanal”. E está certo. O veganismo, quando imposto sem diálogo, torna-se uma nova forma de colonialismo — agora gourmet.
A gastronomia como território de disputa política
A cozinha pode claramente ser palco também de disputas simbólicas. E o Brasil, com sua estrondosa diversidade alimentar, não pode continuar abaixando a cabeça para padrões europeus que desqualificam nossos ingredientes, modos de preparo e histórias.
É preciso dizer com todas as letras: não há nada mais sustentável do que comer o que se produz localmente, respeitando os ciclos da natureza e os saberes dos povos. E nisso, o Brasil dá aula.
Empresários da gastronomia do todo o Brasil, uni-vos
Para os donos de bares e restaurantes, especialmente os que atuam em regiões com forte identidade alimentar, o episódio é um alerta. A pressão por menus “globais”, “instagramáveis” e “politicamente corretos” não pode apagar a autenticidade dos nossos pratos. Defender ingredientes locais — mesmo que não veganos — é defender empregos, cultura e soberania.
Jennings não foi arrogante. Foi corajoso. E seu gesto deve inspirar uma nova postura: menos submissão ao gosto estrangeiro e mais valorização da nossa própria cozinha. Avante!
Este texto tem caráter opinativo. As ideias e conceitos expressos no artigo são de inteira responsabilidade do autor.
