Um novo levantamento identificou os pratos mais emblemáticos de cada região brasileira, organizando a geografia gastronômica dos sabores de rua do Brasil. O projeto integra o relatório Menus do Futuro 2025, que apontou a reinvenção da comida de rua como uma das principais tendências do setor.
A pesquisa é um compilado de dados globais e feedback de mais de 1.100 profissionais de cozinha em 20 mercados e mostra como essa tendência inspira restaurantes e operadores de food service a incorporarem receitas brasileiras em seus cardápios.
Com curadoria do chef Vitor Tsuru, colaborador do relatório Menus do Futuro, a pesquisa confirma o que qualquer brasileiro sabe: nossa comida de rua é patrimônio afetivo nacional. Os pratos revelam nos sabores de rua, democráticos e acessíveis, temperos, ingredientes, sotaques, histórias e a alma de cada região.
O chef curador destaca que a comida de rua brasileira vive um momento especial, impulsionada principalmente pela Geração Z, que busca experiências gastronômicas autênticas e de valor. "Muito além do sabor, cada quitute carrega o DNA de um povo", explica Tsuru.
Mais que uma moda passageira, a valorização da comida de rua representa o reconhecimento de que cada receita carrega história, afeto e símbolos regionais, ingredientes que nenhuma cozinha consegue reproduzir artificialmente.
Norte: sabores da floresta
No Norte, o tacacá surge como mais do que uma sopa que mescla o tucupi, jambu e camarão. Ao lado dele, o pirarucu à casaca representa a fusão entre ingredientes amazônicos e influência portuguesa, presença indispensável nas festas juninas.
É ritual afetivo do fim de tarde, carregando sabores da floresta e simbolizando a resistência cultural do Paráchef Vitor Tsuru
O pato no tucupi, um dos mais famosos nessa lista, mantém viva a sofisticação da tradição indígena.
No quesito sanduíches, o X-Caboquinho, que envolve tucumã e banana pacovã, conquistou o status de patrimônio cultural em Manaus, mostrando como a inovação das comidas de rua são símbolos de identidade local.
Nordeste: África na tradição nos quitutes dourados
"Das raízes africanas às esquinas de Salvador, o acarajé é mais do que comida: é história viva que se encontra no paladar", destaca Tsuru sobre o bolinho dourado de feijão-fradinho que representa a fusão das tradições afro-brasileiras.
A carne de sol aparece reinventada na paçoca salgada e no escondidinho, sempre conectada ao sabor sertanejo e às festas populares. Completam o repertório nordestino a tapioca, também de origem indígena e uma estrela nas festas e cardápios ao redor do Brasil. E, por fim, o cuscuz de milho, companheiro fiel desde o café da manhã até as celebrações mais tradicionais.
Centro-Oeste: o Cerrado chega às ruas
O Cerrado se revela nos ingredientes que se tornaram protagonistas urbanos. A pamonha, feita com milho fresco, com versões doces e salgadas, é tratada pelos goianos como parte fundamental de sua identidade.
Na tradição goiana, a pamonha não é só comida: é elo entre o campo e a cidadechef Victor Tsuru
O caldo de piranha nasceu da pesca abundante do Pantanal e hoje marca presença nas cozinhas pantaneiras e paradas de estrada.
O arroz com pequi confirma sua posição como prato emblemático de Goiás, enquanto o empadão goiano, farto e generoso, reina nas festas e feiras locais.
Sudeste: diversidade cultural no prato
A região mais urbana do país reflete sua diversidade nos clássicos de rua. O pastel frito, disseminado pelos imigrantes asiáticos em São Paulo, tornou-se símbolo da mistura cultural brasileira, em parceria com o caldo de cana.
"O cachorro-quente brasileiro é único no mundo: cada mordida é um retrato da inventividade urbana", comenta Tsuru sobre a versão abrasileirada recheada com purê de batata, milho, vinagrete, queijo e batata-palha.
Além disso, o queridinho pão de queijo mineiro espalhou uma tradição pelo país e a coxinha se consagrou como verdadeira paixão nacional.
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Sul: tradição gaúcha e herança açoriana
O churrasco gaúcho mantém seu posto de ícone maior na região, preparado em fogo de chão como verdadeiro ritual de encontro e orgulho regional. O barreado, cozido lentamente em panela de barro até a carne desmanchar, conecta passado e presente no litoral paranaense.
"O barreado é pura memória coletiva: nasceu nos mutirões e continua sendo celebrado até hoje", afirma o chef. O arroz carreteiro entra na lista como preservação da herança dos tropeiros.
Quanto à lanches e sanduíches, o X-Gaúcho domina as lanchonetes. Por fim, a carne de onça se estabeleceu como patrimônio de Curitiba.