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Como a Geração Z no setor de alimentação busca novas experiências

A conexão real é o principal item do cardápio. Para a Geração Z, a experiência em bares é sobre o encontro, não sobre o excesso. Foto: Canva

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Menos álcool, bem-estar em foco. Menos madrugada, mais conveniência. A geração Z redireciona padrões e provoca reflexões sobre o futuro do setor

Guilherme Paixão 05/09/2025 | 11:16

O comportamento dos consumidores mudou com velocidade e intensidade nos últimos anos, e a geração Z — nascida entre 1997 e 2012 — está no centro dessa transformação. Conectados desde a infância, esses jovens valorizam saúde mental, bem-estar e autenticidade e, ao mesmo tempo, têm o mundo digital como extensão natural da própria vida. Essa combinação está alterando, de modo visível, os hábitos relacionados a bares e restaurantes. 

Segundo levantamento da Mind & Hearts, do grupo HSR Specialist Researchers, realizado com 677 entrevistados, 36% dos jovens da geração Z no Brasil consomem álcool uma vez por mês ou menos — índice superior aos millennials (32%) e à geração X (32%). Além disso, 88% desses jovens estão dispostos a reduzir ou abandonar totalmente o consumo de bebidas alcoólicas. 

Outro estudo, da MindMiners, revela que apenas 45% da geração Z consome álcool, esse é o menor índice desde 1962. A consultoria aponta que esses consumidores priorizam saúde física e mental, clareza e autocontrole, o que está redefinindo o próprio conceito de celebração. Como reflexo, o mercado global de bebidas não alcoólicas deve movimentar cerca de US$ 3,8 trilhões até 2034, impulsionado por categorias como mocktails, kombuchas e drinques funcionais.   
O brinde mudou. Para a Geração Z, a celebração está na sofisticação e no sabor, com ou sem álcool. Foto: Canva
 

Esse comportamento já impacta o cotidiano de bares. No Grafficca Bar, em Belo Horizonte–MG, a procura por coquetéis sem álcool levou à reformulação de receitas.Muitos clientes buscavam bebidas criativas e sofisticadas, similares aos coquetéis clássicos, mas sem álcool. Por isso, desenvolvemos novas opções e adaptamos receitas já existentes, garantindo que todos possam aproveitar a experiência”, explica a proprietária Marilda Ribeiro. 

Entre a tela e o prato 

A mudança não se limita ao que se consome, mas também ao modo como isso acontece. A geração Z é marcada pela busca por conveniência e por experiências práticas, mas com significado. Pesquisa divulgada pela Ticket mostra que esse grupo é responsável por 51% dos pedidos de delivery realizados no Brasil. Entre os entrevistados, 46% preferem receber em casa a buscar no local ou utilizar drive-thru

Os fast foods lideram entre os tipos de culinária escolhidos no delivery, seguidos por comida brasileira, lanches, pizzas e carnes. Mas o maior gasto médio aparece na culinária japonesa, com R$ 84,80 por pedido. A comida mineira figura com o menor valor médio: R$ 49,59. 

Esse é um público que valoriza agilidade e controle.

O celular se tornou a principal interface entre cliente e restaurante e isso alterou não só os formatos de atendimento, mas também a própria percepção de qualidade. Estrutura do cardápio, tempo de espera, clareza nas informações e a forma como o restaurante responde nas redes sociais são avaliados com atenção. A jornada começa no digital e, muitas vezes, também termina ali, sem passar pelo espaço físico. 

[Os consumidores da geração Z] São muito bem-informados e pesquisam avaliações e indicações. Geralmente, não compram por impulso porque valorizam a questão financeira aponta a pesquisa da Ticket.O comportamento digital influencia também a relação com as marcas. No mesmo estudo, a Ticket mostra que o Instagram é a principal plataforma de influência para as decisões de consumo da geração Z, seguido pelo Google, que cresce como ferramenta de busca por estabelecimentos. O processo de escolha passa por avaliações, comentários e reputação digital — fatores que pesam mais do que propaganda tradicional. 

Além disso, muitos desses jovens buscam locais e experiências que não se baseiam necessariamente no consumo de álcool. Espaços alternativos, como cafés com jogos de tabuleiro, bares com fliperamas e ambientes voltados para experiências sensoriais ganham cada vez mais espaço.

No Japão, nos Estados Unidos e em cidades brasileiras, surgem casas que combinam gastronomia com atividades como RPG, pintura, leitura e jogos analógicos — atividades que resgatam o convívio, mas em um ritmo mais tranquilo e menos ruidoso. 

Essa reconfiguração também afeta os programas de fidelidade. Os consumidores da geração Z demonstram preferência por recompensas personalizadas, conectadas aos seus interesses e entregues de forma prática. Ainda que tenham um poder de compra crescente, o custo-benefício segue como fator decisivo — desde que atrelado a propósito e autenticidade. 

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O horário muda, o encontro muda e o mercado também 

O deslocamento do consumo para outros horários é outro traço marcante. Dados do mercado britânico mostram que 75% das casas noturnas do Reino Unido fecharam nas últimas duas décadas. Em Berlim, a boate Watergate, ícone da cena eletrônica, encerrou as atividades após 22 anos. A madrugada, que por muito tempo foi associada à vida jovem, parece dar lugar a outras formas de socialização

Segundo a empresa Statista, mais de 60% dos casais formados em 2024 se conheceram online — contra menos de 5% que tiveram o primeiro encontro em bares ou restaurantes. A socialização acontece, cada vez mais, fora da pista e dentro da tela. Em vez da madrugada, ganham força os brunches, os cafés da manhã entre amigos e os encontros no fim da tarde. 

Essa mudança de ritmo também impacta a atmosfera dos negócios. A experiência deixa de ser centrada no entretenimento noturno e passa a incluir bem-estar, pertencimento e conexão emocional com o espaço. A comida passa a ter papel de mediação social e não de espetáculo. 

Essas transformações não significam perda de interesse por experiências gastronômicas ou sociais, mas apenas um redirecionamento. A diversão não desaparece; ela se transforma. Para bares e restaurantes, esse deslocamento levanta questões importantes: como adaptar os horários de funcionamento? Como explorar melhor os momentos diurnos e as experiências de convívio que não dependem do álcool? 

São reflexões que não envolvem apenas cardápio e operação, mas também posicionamento, escuta ativa e compromisso com novas formas de presença. A geração Z não está apenas consumindo, ela está moldando os padrões do que será, daqui em diante, a experiência de sair para comer, beber e se encontrar. 

Leia a matéria completa na edição 164 da Revista B&R

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