As redes sociais são o palco perfeito para quem quer oferecer soluções “fáceis” que maquiam a ideia de que aproximar um bar ou restaurante do público é algo simples. Mas nesse jogo existem perigos à espreita. Em meio a tanta informação, nem tudo que aparece como novidade na Internet pode ser, de fato, considerado uma tendência de mercado.
E o mais importante nessa equação, nem todas vão fazer sentido para o seu público, o perfil do seu negócio e os seus objetivos. Para construir uma conexão com seus clientes e criar uma comunidade de um público engajado é necessário mais do que replicar uma receita viral da Internet.
A especialista em marketing gastronômico, Dayanne Melgaço, destacou aquele momento em que o estabelecimento carece de alternativas para aumentar o faturamento. “É natural que, principalmente em fases difíceis do negócio, o empreendedor tente abraçar toda novidade que parece promissora. Mas nem toda tendência faz sentido para todo negócio e nem precisa fazer”.
A sensação de urgência que as redes sociais provocam também contribui com essa necessidade de aderir qualquer novo fenômeno que aparece. Aparecer nas trends, viralizar e as pessoas conhecerem seu nome parece a fórmula do sucesso. Essa pressa e sede de visibilidade, muitas vezes, acaba te distanciando do que é o seu negócio e onde você deseja chegar com ele.
“Aqui entra uma reflexão importante: qual é o objetivo do seu negócio? Você quer que a sua marca dure muitos anos, tenha longevidade e crie raízes? Ou o projeto nasceu já como algo sazonal, pensado para aproveitar as ondas de tendência? Se for esse o caso, faz todo sentido seguir o que é passageiro. Mas se a ideia for construir uma marca que dure, é preciso filtrar com cuidado”, continuou Melgaço.
Para além de surfar no que “todo mundo aparentemente está fazendo”, meditar sobre o que realmente faz sentido para o seu negócio, sem cair em qualquer moda, é o que vai criar uma conexão com o seu público.
Como foi o caso de Juliana Castro, proprietária do Belô Café, uma cafeteria localizada na região da Savassi, em Belo Horizonte–MG. O espaço também serve refeições e, recentemente, se tornou um ponto de encontro em um formato emergente em cafeterias e padarias ao redor do mundo, as coffee parties (festas em cafeterias, tradução livre). Apesar de se mostrar um formato popular em diferentes lugares, aderir a uma tendência não é só replicar algo viral.
“Com certeza existe um cuidado. Nem tudo que está em alta na internet se sustenta no dia a dia de um negócio. O desafio é adaptar essas tendências à realidade do nosso público e manter a essência da marca”, contou Castro.
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Adeus às tendências virais?
A resposta é: depende. A Belô Café não é a pioneira em aderir às festas diurnas regadas à cafeína e sets de música eletrônica. As coffee parties têm se tornado uma referência cada vez mais popular para cafeterias e padarias ao redor do mundo. Os eventos consistem em um encontro diurno que mistura o ambiente aconchegante à música.
“As cafeterias, por serem ambientes mais intimistas, têm se tornado o cenário ideal para esse tipo de encontro. A ideia das coffee parties surgiu como uma resposta natural ao desejo de criar momentos únicos, com uma atmosfera afetiva, que une boa gastronomia, estética e conexões reais”, relembrou Castro.
O formato não nasceu aqui, recorrente no Canadá, nos Estados Unidos e na Espanha, pousou no Brasil com eventos distribuídos entre as principais capitais do país. Em Belo Horizonte, a Pão de Queijo Sessions, realizada no Belô Café, teve sua primeira edição no dia 14 de junho de 2025. A idealizadora do projeto, Dani Ebner, DJ e produtora musical, destacou que a festa também tem um objetivo de amplificar novos nomes do cenário da música eletrônica na capital.
“O projeto nasceu com o objetivo de valorizar a cena eletrônica local, abrindo espaço para DJ’s e produtores mostrarem seus trabalhos em um formato mais próximo do público, acessível e cheio de identidade”, explica a produtora.
Quando a gente sabe quem é, fica mais fácil negar o que não faz sentido Dayanne Melgaço
A recepção tem sido positiva, segundo Ebner. “Como é um evento diurno, gratuito e com música eletrônica chama bastante atenção e tem muita adesão de todas as idades e públicos”. Não à toa, a segunda edição ocorreu em 19 de julho e em breve deverá acontecer a terceira edição do evento.
Como muitas outras tendências emergentes, as festas em cafeterias despertam uma onda de reações, a depender do público. Algumas pessoas não se identificam com o fator “música eletrônica em uma cafeteria”, espaço onde conforto e a calmaria tendem a fazer parte do cardápio. Em contrapartida, quem abraça a ideia vê o evento como uma possibilidade de lazer diurno, sem o foco no álcool e com um som animado.
Polêmicas à parte, em um cenário com opiniões divergentes, quem está por trás do balcão precisa entender o perfil do seu cliente e se essa tendência é sustentável para além do viral nas redes sociais. “A gente gosta de testar o novo, mas sempre com os pés no chão e ouvindo muito quem está com a gente no dia a dia — clientes, equipe e parceiros”, destacou Castro, que aderiu à proposta do Pão de Queijo Sessions na sua cafeteria.
Nicholas Fullen, sócio do Grupo Locale, realiza o Just a Brunch no LOCALE Caffè, uma coffee party mensal que arrasta um público fiel na capital São Paulo.
Conforme explica, eles buscaram “entender se havia uma sinergia desse tipo de projeto com o nosso público e vimos que sim. Também levamos em consideração a frequência que aconteceria e chegamos à conclusão de que 1x por mês seria o ideal, pois não atrapalharia a operação da casa e ofereceria algo diferente”, conta.
A Pão de Queijo Sessions é inspirada nas coffee parties ao redor do mundo, mas também soube adaptar a estética com elementos da culinária mineira, colocando em destaque o pão de queijo, produto indispensável no cardápio do cotidiano das cafeterias. Isso atrai quem se interessa pela música e pela comida.
Diferente da proposta mineira de acolher uma cena eletrônica local, o LOCALE Caffè, em São Paulo, investiu em trazer nomes populares da música eletrônica brasileira como Bhaskar, Cat Dealers e Dubdogz, artistas que já possuem uma enorme comunidade de fãs que acompanham seus trabalhos.