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Cliente usa meu café para trabalhar: problema ou solução?

Cafeterias e restaurantes com espaços de coworking investem em acolher novos clientes com espaço acolhedor, tomadas e internet disponíveis. Foto: Canva

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Entenda como empreendedores de cafeterias têm enxergado oportunidades de fidelizar clientes e aumentar seu lucro com espaços coworking

Yasmim Paulino 04/06/2025 | 11:22

O número de pessoas que trabalham remoto ultrapassou o dobro nos últimos 10 anos, diz a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). O novo cenário criou uma demanda por estabelecimentos comerciais que oferecem um espaço confortável, internet rápida e opções de cardápio para consumir no decorrer do expediente. Camila Carvalho, dona da cafeteria Café das Flores, com unidades em Belo Horizonte e Ouro Preto, foi acolhendo esse público naturalmente.

Essa é uma demanda muito natural nos dias de hoje. As pessoas estão sempre conectadas e precisando resolver questões de trabalho ou estudos em qualquer lugar que estejamCamila Carvalhopandemia da covid-19 foi um fator de grande impacto sobre trabalhadores que, mesmo após o isolamento, permaneceram nesse modelo. 

Mesmo quem não começou o negócio com o objetivo de ser um espaço coworking, acabou encontrando uma demanda de público formado de clientes que vão desde trabalhadores autônomos, remotos, estudantes à turistas viajando. Para Camila, “internet e tomadas disponíveis são pré-requisitos hoje para qualquer estabelecimento”. 

No caso da cafeteria Barões do Café, situada em Natal, capital do Rio Grande do Norte, a localização do negócio foi o que colocou o coworking no radar. 

“Nós estamos inseridos em um shopping aqui de Natal, uma galeria em que 70% é formada por escritórios de coworking. Então, acaba que as pessoas que trabalham lá todos os dias tem o seu local e eles passaram a virar nossos clientes”. 

No coworking a receita é fidelizar o cliente

Para quem quer aproveitar a oportunidade, empreendedores do ramo afirmam que criar uma conexão com o cliente para conquistar um lugar fiel na sua rotina diária é indispensável. 

“Na minha concepção, cafeteria é rotina. A partir do momento que a gente entra na de algum cliente é um ponto positivo porque nos gera muitas oportunidades de fazer novos negócios. Acaba que você passa a ter uns clientes fidelizados na semana e aqueles outros clientes que vêm por outros meios, que não seja para trabalhar, e acabam se somando. O seu faturamento naturalmente vai crescendo”, explica Rodrigo, da Barões do Café.

Como as pessoas vão especialmente para trabalhar ou estudar, o consumo pode ser um pouco menor e essa questão tem despertado diferentes reações entre os donos das cafeterias, lanchonetes e restaurantes. Em uma situação extrema, na cidade de Barueri, em São Paulo, um proprietário se irritou com um cliente que estava com o laptop aberto na mesa enquanto consumia um lanche e o ameaçou de agressão se ele não se retirasse com o aparelho. 

Notícias sobre cafeterias estarem cobrando a mais no cardápio pelo tempo de estadia do cliente também têm despontado nas redes sociais. Em um estabelecimento na Espanha, por exemplo, o valor do café aumenta de acordo com o tempo que você pretende ficar no espaço. Nesse caso em especial, a decisão do proprietário partiu devido ao fluxo intenso de turistas e a necessidade das mesas terem uma rotatividade maior. 

Mas no cotidiano, para Rodrigo, isso não tem sido uma questão, já que entende essa fluidez no consumo como um território fértil para ofertas e novas relações. “O cliente que vai sempre passa a compreender a necessidade de consumir mais. Porque acaba que ele passa a ter um relacionamento com nossos colaboradores, o que até facilita a abordagem de oferecer mais alguma coisa. Eu tenho alguns exemplos de clientes que tomam café, almoçam e jantam, mas que antigamente iam para tomar um café e uma água”.

A cafeteria define as regras

Ainda não existe nenhuma lei nacional no Brasil sobre utilizar equipamentos eletrônicos em estabelecimentos comerciais da alimentação fora do lar, o que abre espaço para cada proprietário criar suas regras. 

No Café das Flores, Camila destaca que uma conversa antecipada com o cliente já cumpre o necessário.

“Eu creio que se a regra não for passada para o cliente antecipadamente, não há o que fazer além de respeitar o tempo dele ali. Não há como dizer, de repente, que ele não pode ficar mais ali. Porém, onde há regras claras a respeito, explicadas com antecedência, cabe uma conversa educada com o cliente”. 

A proibição do uso do seu espaço para coworking é válida, contando com o aviso antecipado ao cliente. Para além da cordialidade, o empreendedor precisa estar atento, pois a clareza na apresentação dos serviços ofertados pelo estabelecimento faz parte do Código Brasileiro do Direito do Consumidor e ampara ambas as partes. 

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