Quando se fala em café, a maioria dos brasileiros pensa na tradicional bebida quente, forte e adoçada. Mas, nos últimos anos, um movimento tem resgatado a essência do café de qualidade, elevando o consumo a um nível de experiência sensorial e cultural. Devida à popularidade do grão, empreender em cafeterias é um pensamento que surge na cabeça de muitos futuros donos de negócios de alimentação fora do lar.
No episódio 101 do podcast O Café é a Conta, a empresária e barista Camila Carvalho compartilha sua jornada no empreendedorismo cafeeiro, desde os desafios com mão de obra até a importância de educar o consumidor sobre o valor de um café especial.
Entenda nesse episódio um pouco da realidade de ramo cafeeiro no Brasil.
Mudança na cultura do consumo do café
Muitos brasileiros cresceram acostumados com um café extremamente torrado e adoçado, muitas vezes servidos em copos plásticos e por valores baixos. A cultura brasileira do café se moldou em torno do “cafézinho” barato e de baixa qualidade.
Por isso, a proposta das cafeterias especializadas é romper com esse padrão e introduzir o consumidor a um café de alta qualidade, os chamados cafés especiais.
A primeira reação de quem não conhece café especial é estranhar a cor e a leveza. Muitos chamam de ‘chafé’ porque não tem aquele tom preto e sabor amargoCamila Carvalho.
Com tonalidades diversas, sabores mais marcantes e aromas que remetem ao cítrico, floral, frutados e outros, os cafés com pontuação alta ganham mais que um mero espaço no dia e se tornam uma experiência gastronômica.
A torra mais clara, utilizada no café especial, realça as nuances sensoriais do grão, permitindo que o consumidor perceba os sabores com mais facilidade. Mas a mudança de percepção não acontece instantaneamente – é um trabalho contínuo de educação e adaptação do paladar.
Experiência sensorial
No Café das Flores, Camila trabalha exclusivamente com cafés especiais, adquiridos diretamente de produtores mineiros, em sua maioria, pequenos e de agricultura familiar. Ela explica que para empreender em cafés é preciso entender que há uma diferença entre cada um dos cafés e que o processo para que e chegue até a xícara do cliente é longo e merece ser valorizado.
Pensando em como o cliente terá uma boa experiência sensorial ao degustar o café, Camila explica que é preciso estar de olho nas pontuações e características do produto.
“Para ser considerado especial, um café precisa atingir pelo menos 80 pontos em critérios como aroma, acidez e corpo”, pontua a especialista.
Tendências de consumo do café
Camila reforça que o sucesso de um modelo de negócio não depende apenas da tendência e de bons produtos, mas da adaptação às necessidades do público.
“Nem sempre abrir para café da manhã significa ter mais vendas. Em Ouro Preto, por exemplo, percebemos que nosso horário ideal de funcionamento era do meio-dia às 19h, atendendo melhor ao fluxo da cidade”, explica.
Assim, a empreendedora ensina que antes de tomar decisões sobre horários, tipos de produtos a serem oferecidos, os serviços, o local e modo de atendimento, é preciso fazer um estudo para otimizar o desempenho do negócio.
O branding e a experiência afetiva no café
Mais do que servir um bom café, Camila acredita que o segredo do sucesso está na experiência proporcionada ao cliente. Seu café em Ouro Preto foi pensado para remeter a uma “casa de vó”, com móveis antigos, objetos de família e um cardápio que resgata memórias afetivas, como o tradicional bolinho de chuva – carro-chefe da unidade e o pão de queijo caseiro – receita de família.
“O Café das Flores não é apenas um negócio, é um pedaço da minha história e da minha família”, afirma.
Esse cuidado com o branding não é apenas estético, mas também estratégico. Em um mercado onde cafeterias surgem a todo momento, criar uma identidade forte e autêntica é essencial para fidelizar clientes e garantir longevidade ao negócio. Afinal, a experiência do cliente deve ser elaborada desde a gestão do negócio até a mesa.
Mão de obra qualificada
Outro ponto que empreender no setor de cafeterias exige atenção é na equipe de colaboradores. Um dos principais obstáculos enfrentados por Camila é a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada.
“Hoje em dia, é muito difícil encontrar baristas capacitados, principalmente fora dos grandes centros urbanos”, explica.
Em cidades menores, como Ouro Preto, o acesso ao conhecimento sobre técnicas de preparo e extração é um pouco mais limitado, tornando a capacitação da equipe um fator determinante para o sucesso do negócio. Desta forma, é importante sempre pensar em treinamentos e preparo da sua equipe para avançar cada vez mais no setor.
O futuro do café no Brasil
Com o aumento do consumo de cafés especiais e o fortalecimento da agricultura familiar no setor, o Brasil tem se destacado no mercado global. No entanto, a conscientização do consumidor ainda é um desafio.
“O café passa por um processo longo e trabalhoso até chegar à xícara. Valorizar esse trabalho é entender que café bom não precisa ser barato, mas sim justo”, defende Camila.
O episódio de ‘O Café é a Conta’ com Camila Carvalho é um convite para empreendedores, apaixonados por café e curiosos sobre o universo da bebida a se aprofundarem nesse tema.
Dê o play e descubra como um simples café pode contar muitas histórias!
*Matéria produzida com base na entrevista realizada por Danilo Viegas para o podcast “O café e a conta”