Um marcado que movimenta bilhões anualmente, cresce a taxas exponenciais e está presente na mesa de milhões de brasileiros todos os dias. O mercado de pizzarias no Brasil é, sem dúvida, um gigante da gastronomia e da economia, os números comprovam isso.
Dados recentes pintam um quadro impressionante: o país registra um crescimento notável no número de estabelecimentos especializados e um faturamento que muitos setores desejam atingir. No entanto, por trás dos números que causam inveja, esconde-se uma história de fragmentação da comunidade e focado em concorrência, ao invés do crescimento.
Agora, uma nova safra de donos de restaurantes está reescrevendo essa narrativa, entendendo que a verdadeira força não está em guardar segredos, mas em compartilhar conhecimento. A união, antes tida como algo distante, surge como o ingrediente secreto para profissionalizar e expandir ainda mais um mercado que parece não ter limites.
O setor em números
Para entender a dimensão do setor, basta olhar para os dados. Conforme dados levantados pela Abrasel, as de 160 mil pizzarias espalhadas por todo o Brasil vendem, mensalmente, cerca de 204 milhões de pizzas. Esse número se aproxima de da quantidade de habitante no país. A estimativa foi feita com base em pesquisas próprias e em dados da Receita Federal.
Em 2024, o faturamento do setor atingiu a marca de R$ 24,4 bilhões. O consumo acompanha essa grandiosidade. Em matéria do portal BPMoney (publicada em julho de 2025) destacou que, apenas no iFood, foram entregues mais de 103 milhões de pizzas em 2024, o que equivale a uma média impressionante de 157 pizzas por minuto. Os números mostram não apenas uma paixão nacional, mas uma potência econômica consolidada e em plena expansão.
Esse crescimento robusto aconteceu historicamente de forma pulverizada e marcado por um sentimento de distanciamento. Donos de pizzarias, muitas vezes em cidades e bairros vizinhos, viam-se unicamente como rivais em uma disputa acirrada por clientes, sem perceber o potencial da colaboração. Isso, foi o que nos contou Daniel Lucco, CEO da La Braciera - Pizza Napoletana e um dos criadores do evento Pizza Masters, e Diego Senra, consultor especialista no mercado de alimentação fora do lar e também criador do Pizza Masters.
Do isolamento à colaboração
"A tipologia da pizzaria é uma tipologia antiga", explica Senra. Ele contrasta o setor com o de hamburguerias, que é mais jovem e que já nasceu com uma cultura colaborativa mais forte. "Na hamburgueria, eles entenderam que, compartilhando as dicas, compartilhando tudo, eles cresciam como um todo. E o mercado inteiro crescia, se desenvolvia, e aí foi se criando uma cena colaborativa", pontua.
A pizzaria é uma das maiores, se não a maior tipologia que tem no Brasil. São mais de 100 mil pizzarias. Então, assim, poxa, como é que não tem um evento falando com esses caras?Diego Senra
Por outro lado, no universo da pizza, a tradição era outra: a concorrência ditava as regras e o isolamento era a norma. Essa barreira, no entanto, está sendo quebrada por uma mudança geracional, impulsionando o sentimento de colaboração entre os donos de pizzarias.
"Um dos públicos que a gente está atingindo no Pizza Masters são segundas gerações das pizzarias", revela Senra. Essa "nova safra", como ele descreve, chega com um olhar renovado e uma bagagem diferente. "Os ‘caras’ vêm querendo rejuvenescer, realinhar, revisitar as tradições, oxigenar a empresa como um todo, entrar com gestão, com controles", afirma.
Essa nova mentalidade tem disso um motor para a transformação do mercado de pizzarias no Brasil. Donos dos restaurantes começam a perceber que os desafios, sejam eles logísticos, técnicos ou de gestão, são comuns a todos e que a solução do problema de um, pode estar no diálogo com um par do setor.
"Eles [a nova geração de donos de pizzarias] começaram a ter essa mentalidade de compartilhamento, de colaboração. Então, eu acho que o evento nasceu de um rejuvenescimento, de uma nova safra de donos de pizzaria", conclui Senra.
Benefícios de uma comunidade engajada
Quando atuantes de um mesmo setor se unem, os ganhos são sentidos em toda a cadeia, é o que destaca Daniel Lucco. Para ele, o benefício mais imediato é a sobrevivência e a saúde dos negócios. Principalmente, quando o assunto é profissionalização do setor, pois a troca de conhecimento favorece o crescimento mútuo.
Em conversa, Senra e Lucco pontuam que são muito os benefícios e que com uma gestão mais qualificada, aprendida em conjunto, significa menos mortalidade de empresas e um mercado mais estável, o que beneficia até os fornecedores, que sofrem com a inadimplência causada pela má administração.
"A questão da profissionalização do segmento é benéfica para todos. Porque uma vez que a gente tem um nível de profissionalização alto, a gente evita, primeiro de tudo, das pizzarias fecharem", argumenta Lucco. |
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Além da gestão, a colaboração eleva o nível técnico do produto. "Hoje, a gente passa por um momento em que a pizza está mudando de patamar de técnicas. A gente tem técnicas de fermentação, que o hamburgueiro não vai falar disso, o pasteleiro não vai falar disso", explica Lucco. A troca de experiências sobre massas, fornos e ingredientes permite que o setor inteiro evolua, entregando um produto final de maior qualidade ao consumidor.
A gente já tem esse consumo gigantesco com um produto que nem era tão cuidado como está sendo hoje. Imagina daqui para frenteDaniel Lucco
O resultado mais poderoso dessa união, talvez, seja a capacidade de expandir o próprio mercado. Lucco traz uma perspectiva fascinante sobre o potencial ainda inexplorado:
"São Paulo é a segunda cidade que mais consome pizza no mundo. A gente só perde para Nova York e a gente só consome no jantar. Quer dizer, a gente ainda nem tem o costume de pedir no almoço".
Essa união de forças pode criar ocasiões de consumo e educar o paladar do público para novos estilos de pizza, aumentando o "bolo" para todos, em vez de apenas disputar fatias.
O palco da nova era do setor
Nesse cenário de transformação e necessidade de trocas que fortaleçam o setor que nasce o Pizza Masters, um evento criado para ser o catalisador dessa nova era de colaboração e profissionalização.
A iniciativa surgiu de uma necessidade latente, como observa Senra: "Chega uma hora que o próprio mercado clama por um evento desse. Fala, 'gente, vamos juntar todo mundo e falar sobre isso?' Porque tem uma demanda. Tem uma conversa para acontecer".
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O objetivo do evento é claro e direto. "Se a gente tivesse que resumir o que move o Pizza Masters, é a profissionalização. É levar essas pizzarias para um próximo nível, para um outro patamar", define Senra. |
A proposta é ir além do genérico e mergulhar nas dores e particularidades do setor. A programação aborda desde desafios únicos, como a logística de transporte que "demanda um baú único para o cara entregar", até os debates técnicos sobre fornos, massas e insumos.
Lucco pontua que "A gente jamais conseguiria trazer um conteúdo genérico e conseguir pegar o dono de pizzaria dessa forma", destacando a exclusividade e a relevância dos assuntos a serem tratados no evento.
O apetite do mercado por essa iniciativa é evidente. "A gente está tendo mais de 70% dos nossos participantes que já compraram os ingressos de fora de São Paulo. Quer dizer, existe uma demanda, uma carência enorme desse conhecimento", revelam os criadores do evento.
O Pizza Masters se posiciona, portanto, como muito mais do que uma conferência. Para Lucco e Senra, o evento é um símbolo de um mercado que amadureceu e entendeu que o futuro é colaborativo. Ao reunir concorrentes, especialistas, fornecedores e a nova geração de empreendedores sob o mesmo teto, o evento atende a uma "demanda reprimida" e dá o pontapé para a construção de uma cena de pizzarias mais forte, unida e profissional em escala nacional.
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