Em gestão, liderança e gastronomia, aprendemos muito mais sobre pessoas do que sobre processos. E algumas metáforas ajudam a iluminar aquilo que na correria do dia a dia costuma passar despercebido.
Uma delas, extremamente atual para quem empreende no setor de bares e restaurantes, é a pergunta: “é melhor ser um guerreiro jardineiro ou um jardineiro na guerra?”
À primeira vista soa filosófico. Mas, olhando com profundidade, essa frase revela um princípio essencial para qualquer empreendedor que vive o calor da cozinha, a pressão da operação e a instabilidade do mercado.
O jardineiro na guerra representa alguém que sabe criar, cultivar, cuidar. Mas colocado no meio do conflito — crises financeiras, falta de equipe, alta de insumos, concorrência predatória — ele simplesmente não está pronto.
No setor de alimentação, vemos isso acontecer o tempo todo: gente que abre restaurante com paixão, mas sem técnica. Gestores que cuidam do produto, mas não entendem de gestão. Empresários que querem “paz”, mas ignoram que o mercado é competitivo, imprevisível e, por vezes, cruel.
Esse jardineiro na guerra se machuca rápido. Desanima rápido. Desiste rápido. Porque a intenção é boa, mas a estrutura não aguenta.
Do outro lado está o guerreiro jardineiro. Ele conhece a pressão, o calor, o risco. Foi forjado na dificuldade real — aquela que quem empreende conhece bem: caixa apertado, equipe reduzida, madrugada resolvendo problema, cliente exigente, burocracia pesada, erros que custam caro.
Esse guerreiro sabe lutar. Mas, ao contrário do guerreiro bruto, ele escolhe cultivar: cultura, equipe, qualidade, constância, processos, relacionamento, propósito.
Ele tem a força para enfrentar a guerra, mas a inteligência para não viver em estado de guerra o tempo todo. Esse é o empresário que cresce. É o líder que retém gente boa. É o profissional que transforma o ambiente e inspira o setor.
E o que isso tem a ver com bares, restaurantes e hamburguerias? Tudo. Nosso setor exige uma combinação rara: disciplina militar com sensibilidade humana.
Você precisa ter rigidez para controlar custos, firmeza para liderar pessoas, coragem para assumir riscos, estratégia para crescer e preparo para lidar com pressão. Mas também precisa ter capacidade de cultivar: cultura, equipe, qualidade e marca.
Empresários que são apenas jardineiros sofrem com a realidade dura do operacional. Empresários que são apenas guerreiros quebram a própria equipe. O segredo é o equilíbrio.
Força sem sabedoria destrói. Sabedoria sem força não sustenta. O equilíbrio é ser os dois.
No fim, empreender é exatamente isso: ser um guerreiro treinado o suficiente para sobreviver aos conflitos… e um jardineiro consciente o suficiente para criar um ambiente onde pessoas, marcas e negócios possam florescer.
Não escolhemos viver sem dificuldades. Mas podemos escolher como enfrentamos cada uma delas. E no nosso setor, cheio de desafios diários, essa escolha faz toda a diferença.
Este texto tem caráter opinativo. As ideias e conceitos expressos no artigo são de inteira responsabilidade do autor.
