O setor de alimentação fora do lar opera, em sua maioria, sob uma lógica quase inquestionável: abrir portas, fixar-se em um endereço estratégico e esperar o cliente. Com as mudanças recentes nos hábitos de consumo, um movimento oposto se destaca: levar a marca até o cliente. Essa lógica, chamada de “catch the clientes” pela especialista em branding gastronômico e fundadora do Food-se, Vanessa Huguinin, consiste em surpreender o consumidor em momentos e lugares inesperados, seja por meio de um produto, ou de uma experiência.
Além de ser uma tática de vendas, o conceito responde ao desejo crescente por proximidade e autenticidade na relação com as marcas. Não é segredo que, para o consumidor, não basta comer ou beber, agora é necessário ser surpreendido e se sentir parte de uma experiência única.
Proximidade e contato com a marca
O fenômeno de levar a marca até os clientes ganhou força sobretudo no período pós-pandemia, quando a busca por experiências se intensificou. Consumir comidas e bebidas da forma clássica pode ter se tornado algo pouco atraente para os clientes. Para Vanessa, a marca deve entregar algo a mais para encantar o público, de fato.
Voltamos com uma necessidade ainda maior de viver fora da caixa. Ficamos encaixotados durante muito tempo, e agora o consumidor busca experiências além do óbvio Vanessa Huguinin
De início, a iniciativa pode se apresentar como uma proposta trabalhosa para o empreendedor do setor de alimentação fora do lar. No entanto, com a análise correta de mercado, essa demanda abre espaço para bares e restaurantes expandirem presença sem o peso financeiro de abrir novas casas, por exemplo.
Aqui, o importante é surpreender positivamente o cliente. Huguinin explica que o fundamental nesses casos é garantir o contato com a marca.
“A marca precisa surpreender o cliente, aparecer em momentos inusitados, nos quais o cliente jamais pensaria que a encontraria. Traduzindo esse conceito, vale qualquer ativação de marca, seja vendendo produto ou experiência, o que vale é o contato do cliente com o negócio”, destaca a especialista.
Formatos que conquistaram espaço
Nesse cenário, alguns formatos conquistaram espaço na busca pelo encantamento do cliente. São modelos que combinam mobilidade, criatividade e proximidade, permitindo que bares e restaurantes estejam presentes em diferentes contextos da vida das pessoas.
- Pop-up store gastronômica: são instalações temporárias em shoppings, festivais ou centros empresariais. O caráter curto se torna parte da atração, já que o cliente sabe que precisa aproveitar porque aquela oportunidade tem prazo de validade.
- Concept truck: são vans e caminhões adaptados como verdadeiras cozinhas sobre rodas, que funcionam como vitrines móveis da marca. Eles permitem atender a eventos e feiras.
- Catering corporativo e eventos privados: alguns restaurantes vêm criando braços de atendimento dedicados para empresas, feiras e festas. Cardápios adaptados e operações enxutas tornam esse formato um dos preferidos entre quem busca levar a marca até o cliente.
- Co-branding e ativações em parceria: são experiências gastronômicas em lugares inusitados, como livrarias ou lojas de moda, por exemplo. Essa ação pode reforçar a criatividade da marca e ampliar a visibilidade.
Desafios da operação
O charme de levar a marca até o cliente não elimina os desafios práticos. De acordo com Huguinin, o primeiro deles é a mão de obra. Se em bares e restaurantes a gestão de equipe já é complexa, em catering e eventos a pressão aumenta.
“A mão de obra é sempre o principal desafio. Por isso, recomendamos parcerias com empresas especializadas. Muitos empreendedores nem sabem que isso existe. No entanto, essas parcerias podem funcionar justamente para que os chefs e marcas possam se dedicar ao artístico e não fiquem sobrecarregados pela logística”, afirma Huguinin.
Outro ponto crucial é o cardápio. Em ambientes fora da cozinha tradicional, a agilidade vale mais do que a variedade. “Sempre orientamos cardápios reduzidos. Isso garante eficiência operacional e reforça o posicionamento da marca”, completa a especialista.
Além disso, é preciso pensar em logística ágil e compacta, capaz de lidar com transporte, estoque e montagem sem comprometer o ritmo dos eventos. A equipe, por sua vez, precisa estar treinada para improvisar e manter a experiência coesa mesmo em cenários inesperados.
Leia também:
- Meituan dispara na corrida da IA e desafia o futuro do delivery mundial
- Estratégias de fidelização de clientes: por onde começar?
- Setembro Amarelo: um convite à vida
- iFood e Uber anunciam primeira solução da parceria
- Cinco palestras para repensar o negócio gastronômico
Ativações como vitrine da marca
Vanessa ressalta que um dos diferenciais da estratégia catch the clients é que cada ativação funciona também como uma vitrine da marca. Embalagem, empratamento, ambientação e atendimento são parte inseparável da experiência.
Eventos e ativações podem ser estratégicos para testar um prato, um produto ou até mesmo um mercado. Tudo faz parte da experiência: cada detalhe comunica quem é a marcaVanessa Huguinin
O modelo, portanto, não se resume ao faturamento extra, embora esse também seja um ponto positivo. Ele amplia o alcance da marca e fortalece sua imagem.
“Por dez anos sempre orientei eventos como estratégia de posicionamento. Trata-se de uma das formas mais potentes de dar visibilidade a uma marca”, reforça a especialista.
O futuro do catch the clients
Embora não substitua a unidade fixa, o catch the clients abre caminhos complementares de crescimento. A ação permite aproximar marcas de públicos que talvez nunca visitassem o restaurante original e ainda funciona como um laboratório de inovação.
No atual cenário de competição acirrada, em que abrir novas casas representa risco elevado, formatos móveis, temporários ou colaborativos aparecem como alternativas criativas e seguras.