Dezembro costuma chegar acompanhado de uma mistura conhecida no setor de alimentação fora do lar: expectativa de casa cheia e pressão por fechar o ano com resultado positivo. É nesse contexto que alternativas como oferta de ceias prontas para o Natal passam a ganhar espaço, especialmente em um momento em que 81% dos empreendedores esperam aumentar o faturamento em relação ao mesmo período do ano passado, segundo Abrasel.
Nesse cenário, olhar para além do salão e levar a experiência da marca para a casa do cliente aponta como uma decisão estratégica para donos de bares e restaurantes. Para empreendedores como Vitor Velloso, sócio-proprietário do Pacato e do Pirex, em Belo Horizonte, a ideia das ceias prontas é uma alternativa para transformar o Natal em uma operação previsível. Quem também vê o mercado das ceias prontas como um opção válida para o final de ano, é Miguel Valente, sócio-proprietário do Amassa, em Belo Horizonte; o empreendedor entende que a opção apresenta um forte valor simbólico para o cliente.
Final do ano e a mudança de comportamento do consumidor
A tradição da família passando horas na cozinha preparando a ceia de Natal já não representa a realidade de muitos lares, é o que afirma Vitor Velloso. Segundo ele, esse movimento é especialmente visível entre jovens casais, que passaram a assumir o protagonismo da ceia familiar. “Com a mudança da pirâmide etária, é cada vez mais comum que casais jovens fiquem responsáveis pela ceia. Muitos não têm a prática gastronômica das gerações anteriores, e buscam soluções que tragam segurança e qualidade”, explica.
Quem também observou essa mudança de comportamento foi Miguel Valente, do restaurante Amassa. Para ele, o perfil do público é diverso, mas guiado pela mesma lógica. “Temos desde jovens casais, que buscam praticidade e uma proposta mais contemporânea, até famílias mais tradicionais, que valorizam uma ceia bem executada, com técnica e sabores clássicos”, afirma. “Muita gente quer uma ceia de qualidade, mas não tem tempo, habilidade ou logística para preparar tudo.”
Foi a partir dessa leitura dos consumidores que os empreendedores passaram a investir na venda de ceias de Natal. Em seu cardápio o Pacato investe em pratos mais elaborados, já o Pirex aposta em petiscos, enquanto o Amassa oferece opções de massas artesanais.
Para além do salão
A estratégia de venda de ceias prontas atende à mudança de comportamento do consumidor, mas também evidencia uma tendência que vem ganhando espaço no setor de alimentação fora do lar: o movimento de levar a marca até o cliente. Em vez de concentrar toda a operação no salão, bares e restaurantes passam a criar novos pontos de contato com o consumidor.
Essa lógica se conecta ao conceito de “Catch the Clients”, defendido pela especialista em branding gastronômico e fundadora do Food-se, Vanessa Huguinin. Ao pensar estrategicamente a oferta de ceias prontas, o bar ou restaurante entra simbolicamente na casa do consumidor. Nesse contexto, o momento de consumo deixa de ser apenas alimentar e passa a assumir um papel emocional, ritualístico e afetivo.
Do ponto de vista do negócio
Sob a ótica da gestão, esse movimento também amplia o potencial de faturamento. Ao criar um produto específico, com cardápio fechado, produção planejada e demanda concentrada, a ceia pronta permite ganhar previsibilidade e diluir custos operacionais. No Pacato e no Pirex, Vitor afirma que a margem da ceia costuma ser melhor do que a do serviço regular.
“A margem da ceia é melhor do que o serviço regular por ter alto aproveitamento, baixa perda, e sem ter as incertezas do serviço de salão. Por isso mesmo ela tem o potencial de complementar bem o resultado de final de ano” Vitor Velloso
No Amassa, o modelo da entrega de pratos prontos já faz parte da natureza do negócio. Apesar de integrar o DNA da casa, Miguel afirma que no Natal a procura aumenta significativamente. O movimento é visto de forma positiva pelo empreendedor, que consegue alavancar a vendas dos pratos da casa em um período em que o restaurante não terá serviço no salão.
“No fim, a ceia se torna um canal adicional que incrementa o faturamento, otimiza a produção e amplia a presença da marca na casa dos clientes", afima Valente.
A ceia como ponto de partida para a recorrência
A venda de ceias de Natal pode funcionar como uma ferramenta de construção de relacionamento no médio e longo prazo. No Pacato e no Pirex, Velloso destaca que boa parte das encomendas parte de clientes habituais, um indicativo de confiança e prestígio. São consumidores que já conhecem o padrão da casa e escolhem “levar o restaurante” para um dos momentos mais importantes do calendário familiar.
No Amassa, Valente reforça que ampliar a presença da marca na casa do cliente vai além da data festiva. Ao fazer parte da rotina doméstica, o restaurante deixa de ser apenas um destino ocasional e passa a ocupar espaço no dia a dia do consumidor.
Na prática, a ceia ajuda a construir um vínculo que não se encerra em dezembro. Clientes que confiam a ceia de Natal a um restaurante podem considerar a mesma marca para outras datas comemorativas, celebrações corporativas ou mesmo para o consumo recorrente de pratos prontos ao longo do ano.
