A cena é comum em muitas cozinhas e salões do país: pedidos acumulados, mesas esperando atendimento e um cartaz de “contrata-se” na porta. A escassez de mão de obra virou um dos maiores desafios para bares e restaurantes e, segundo o empresário Celio Salles, não há solução fácil.
“Entre ser feliz e ter razão, escolha ser feliz. As coisas mudaram e, se mantivermos a rigidez nos processos de contratação, vamos continuar com dificuldade para atrair funcionários”, afirmou durante sua palestra no Fórum B&R, realizado na Semana de Alimentação Fora do Lar, promovida pela Abrasel durante a Fispal Food Service.
Franqueado do Bob’s há mais de 30 anos e com centenas de funcionários em sua equipe, Salles trouxe reflexões e práticas testadas em três décadas de operação. Para ele, fatores como a informalidade crescente, mudanças na legislação e uma nova geração com valores diferentes exigem mudanças no modo como os negócios recrutam e lidam com suas equipes.
“Hoje, as empresas são entrevistadas, não o contrário. Os candidatos avaliam se o ambiente de trabalho se alinha aos seus valores e critérios. Quem não compreender isso vai continuar perdendo gente”, disse.
Segundo ele, o salário não é o principal fator de decisão, como muitos pensam. Ambientes agradáveis, acolhimento nas relações pessoais, ganhos compatíveis com o mercado e a perspectiva de aprendizado e crescimento formam o conjunto mais valorizado. “Na minha empresa, todos começam como atendente e se desenvolvem. Essa chance de crescer atrai pessoas melhores e mais dedicadas”, contou.
Ideias para superar as pedras no caminho
Ao longo da apresentação, Salles compartilhou algumas ideias que podem ajudar a contornar as dificuldades mais recorrentes nos processos de contratação. Entre elas, destacou a importância de manter as portas sempre abertas para novos talentos, mesmo quando não há vagas imediatas. “Contratar bem leva tempo. É melhor estar preparado do que contratar com pressa e se arrepender depois”, alertou.
Ele também sugeriu repensar os modelos tradicionais de jornada e explorar alternativas mais flexíveis. Outros pontos incluem criar planos de carreira transparentes, comunicar-se com clareza e manter uma escuta ativa com a equipe, reconhecer desempenhos com bonificações e, principalmente, entender o que move cada colaborador. “Transforme o que você espera no que ele deseja”.
Salles reforçou que não há fórmula mágica nem resultado imediato. Mas acredita que, com disposição para mudar e atenção às novas dinâmicas sociais e trabalhistas, é possível formar equipes mais estáveis e engajadas.
Ele encerrou com uma provocação bem-humorada: “A escassez de mão de obra é um problema grave e sem solução imediata. Mas, para fugir desse leão, você não precisa correr mais que ele — só precisa correr mais que os outros”.