Já foi o tempo em que as tecnologias e inovações no mercado de alimentação fora do lar ao redor do mundo demoravam anos para se integrarem ao mercado nacional. Essa foi uma das pontuações levantadas pelos painelistas do evento Insights da Stone. Durante o evento, focado nesta edição especialmente no setor de food service, os painelistas abordaram as novidades e as tendências vistas por eles na NRA Show 2025 – a maior feira do setor do mundo, que reúne profissionais diversos do setor e líderes globais em Chicago (EUA).
O Insights contou com a participação de grandes nomes do setor de food service no país, que estão antenados ao que acontece no mundo, sendo eles: Renata Cruz – Fundadora do Foodness, Paulo Solmucci – Presidente-executivo da Abrasel, Célio Salles – Empresário com centenas de franquias do Bob’s, José Eduardo Camargo – Líder de conteúdo, inteligência e imprensa na Abrasel.
Mercado em evolução
No painel mediado por Camargo, com a presença de Salles e Solmucci, foram apresentadas algumas frentes que são e serão ainda mais impactadas pelas tendências vistas na NRA Show.
Para os painelistas, a palavra que resume a edição de 2025 é evolução. Como detalha o mediador, muitos dos expositores não traziam novos produtos, mas versões mais modernas e atualizadas de equipamentos que já estão no mercado.
Veja a seguir alguns dos ensinamentos que os empresários trouxeram para quem esteve presente no evento.
Evolução dos cardápios
Algumas mudanças devem começar a se espalhar pelos cardápios dos bares e restaurantes brasileiros. Algumas novidades devem chegar, por exemplo, o uso de preços dinâmicos nos cardápios, para que no decorrer do dia os valores possam alterar conforme a movimentação tida no estabelecimento.
Outros pontos que foram levantados são a criação de produtos focados em chamar a atenção do público, tal qual a drinks e alimentos direcionados a públicos específicos e a criação de cardápio construídos para otimizar a operação dos estabelecimentos de alimentação fora do lar. O foco é na produção de produtos temporários, que visam priorizar insumos sazonais.
Evolução do marketing na NRA 2025
Apesar de já ser uma ferramenta importante para impulsionar o sucesso dos estabelecimentos, o marketing vem recebendo um quê maior de proximidade com o cliente. Isto é, como afirma Salles “a hiper personalização é o caminho para o marketing e para o atendimento”. Solmucci acrescenta que o atendimento conversacional é o início do processo de hiper personalização e ele começa já antes mesmo do ato de fazer a reserva.
Para realizar isso, eles apontam que uma das formas de conquistar essa personalização é ser mais humano e próximo do cliente.“Uma das maneiras de fazer isso é criar pontos de contato com os clientes e uma delas é contar a história da sua marca/negócio”, disse Salles.
Evolução da tecnologia
No que diz respeito à tecnologia, a Inteligência Artificial (IA) ainda é o principal fator de impacto e transformação no setor. O destaque é para a integração da IA a equipamentos utilizados diariamente pelos negócios, da cozinha ao gerenciamento.
“AI chegou aos equipamentos. Hoje, os equipamentos estão vindo já integrados com essa tecnologia, o que otimizou muitas tarefas no dia a dia”, ressaltou Solmucci.
Como sugerem, o uso de IAs que mapeiam uma série de dados, podem até trabalhar como gerentes, podendo decidir ofertas e preços dinâmicos. Desta forma, com base em dados, as IAs podem entender o comportamento dos clientes em determinados momentos e dias especiais e tomar decisões específicas para melhorar os resultados e vendas mais assertivas.
Tendências observadas na NRA
Atenção maior na análise de dados para gerir o negócio e adaptação ao novo perfil da mão de obra do setor: estes foram os temas da palestra “NRA na prática com o Foodness: estratégias para negócios”, realizada por Renata Cruz.
A participação da empresária na NRA despertou alguns insights sobre a gestão e o mercado de trabalho a partir da lógica global presente na feira. Segundo Renata, são três os pilares que precisam guiar as decisões dos gestores nos bares e restaurantes: dados e tecnologia, produtividade e eficiência, e gestão e liderança.
Dados e tecnologia
Se você tem 80% das informações, vá. Tome a decisãoRenata CruzSegundo Renata, o uso de dados confiáveis deixou de ser um diferencial e se tornou essencial na gestão de bares e restaurantes.
"A maioria dos negócios não tem a cultura de organizar as informações. O sistema só funciona bem quando alimentado corretamente. Dados inconsistentes, nomes diferentes para o mesmo insumo, ficha técnica desatualizada, tudo isso prejudica. É preciso envolver a equipe operacional na construção e na governança dessas informações. Os relatórios e dashboards têm que fazer sentido para quem está na linha de frente, não só para quem está no escritório”, explica.
E ela ainda reforça: nem sempre será possível ter 100% das informações na palma da mão. A solução para isso, segundo a consultora, é “Se você tem 80% das informações, vá. Tome a decisão”.
Produtividade e eficiência
Para alcançar eficiência de verdade, bares e restaurantes precisam olhar para todas as etapas da operação. “A eficiência começa antes do cardápio. Primeiro, é preciso clareza de conceito: quem somos? Para quem fazemos? A partir disso, conseguimos desenhar um menu estratégico e fluxos operacionais que realmente funcionam”, explica Cruz.
A tecnologia pode ser uma grande aliada nesse processo. Soluções como bancadas móveis, prateleiras inteligentes e relatórios automáticos de previsão de demanda ajudam a reduzir desperdícios, otimizar o tempo da equipe e aumentar a produtividade.
“Mas não adianta ter equipamentos de ponta se não houver disciplina, processo e cultura bem estabelecida”, alerta.
Cruz faz questão de lembrar que romantismo operacional ficou no passado. “Quem ainda faz o molho da salada todo dia está preso no passado. Planejar melhor, prever a demanda e estruturar a produção são atitudes simples que trazem grandes resultados”.
Gestão e liderança
Mais do que garantir a execução técnica de um prato, o papel do líder na alimentação fora do lar precisa evoluir. Cruz defende uma mudança urgente na forma como se constrói e desenvolve a liderança no setor.
“Um chefe de cozinha não pode ser só alguém que cuida do padrão do prato. Ele precisa entender custos, gestão de equipe e participar das decisões do negócio”, afirma.
Para ela, formar lideranças analíticas e com foco no desenvolvimento das pessoas é essencial para criar equipes mais engajadas e eficientes.
Renata critica o modelo de liderança autoritário, ainda comum no setor. “O líder precisa deixar de ser quem manda e passar a ser quem desenvolve, apoia e resolve problemas junto. A confiança do time começa aí, e é essa confiança que chega até o cliente na ponta”.
Como ferramenta prática para quem está nesse processo, Renata sugere a regra dos 3 R’s da liderança:
- Reconhecer comportamentos positivos e negativos;
- Responder com curiosidade e escuta ativa;
- Reforçar atitudes construtivas com propósito.
“Gestão não é só técnica, é relacionamento. E o modo como cuidamos da equipe é exatamente como eles vão cuidar dos nossos clientes”, diz.
Índice Abrasel-Stone
No evento, foi realizado o relançamento do índice Abrasel-Stone. Ele, que funciona como um monitor mensal do desempenho do setor de alimentação, foi aprimorado e desenvolvido para apoiar empreendedores do setor com informações atualizadas sobre o comportamento do mercado.
Solmucci avalia como positiva e importante a parceria entre a instituição que representa e a Stone. Para ele, a parceria possibilita que os donos de negócios de alimentação fora do lar possar entender melhor o cenário que estão inseridos.
Texto produzido por Tati Ferreira e Brener Mouroli.