Empreendedores do setor de alimentação fora do lar que acompanham as mudanças no comportamento do consumidor já sabem: um ambiente atrativo é parte essencial da fidelização. Reformar, portanto, é uma decisão estratégica para o sucesso do negócio. Ainda assim, muitos empresários acreditam que o único caminho para isso é fechar as portas e pausar a operação. Mas, na prática, o cenário pode ser outro.
Especialistas e empreendedor mostram que, com planejamento, comunicação clara e boas alternativas operacionais, é possível atravessar o período de obras mantendo tanto o movimento quanto a reputação do restaurante
A importância de um planejamento para a reforma
Para garantir que a operação e atendimento aos clientes não se transforme em um problema durante a reforma, um dos principais pontos é garantir um planejamento detalhado e eficiente de obras. Nesse processo, a designer de ambientes, Ayumi Takizawa, detalha no podcast O Café e a Conta, a importância do empreendedor e os responsáveis pela obra alinharem expectativas.
“Não se trata apenas de deixar o espaço bonito. O designer ou arquiteto precisa compreender profundamente o propósito do projeto. Um briefing bem elaborado é essencial para traduzir todas as expectativas do empreendedor, não só no resultado físico, mas também nas sensações que o ambiente transmite”, afirma Ayumi.
Com expectativas alinhadas, o planejamento pode ser executado com mais facilidade sem comprometer o funcionamento da operação. No entanto, de acordo com a designer de ambientes, Vittória Moreira, imprevistos em obras são comuns, mesmo com um escopo de trabalho bem delimitado. Assim, o recomendado é que um profissional especializado na área acompanhe todo o andamento da obra.
“Mesmo com um planejamento detalhado, toda obra está sujeita a imprevistos, é parte do processo. O papel do designer ou arquiteto é justamente antecipar esses cenários e encontrar soluções rápidas, garantindo que a operação continue fluindo com segurança e o mínimo de impacto na experiência do cliente”, elucida Vittória Moreira.
Nesse cenário, Vittória afirma que o acompanhamento próximo da obra pode garantir:
- Ajustes no cronograma: identificar atrasos e reorganizar etapas para evitar que a obra interfira nos horários de atendimento.
-
Controle de ruídos e sujeira: planejar horários estratégicos para serviços mais barulhentos e garantir o isolamento adequado do espaço.
-
Gestão de fornecedores e prestadores: alinhar entregas e serviços de maneira que não comprometam a rotina da operação.
-
Adaptação do layout temporário: reorganizar áreas de atendimento, circulação e preparo conforme o avanço das obras.
Leia também:
- Os aprendizados do Fórum Gourmet para o futuro do setor
- iFood lança programa de capacitação para mulheres empreendedoras
- O desafio da mudança de ponto: como não perder a essência?
- Pizza Masters: os segredos da La Braciera para faturar alto e crescer rápido
- Donos de restaurantes contam quais os desafios de empreender na Amazônia
Desafios da obra e operação em funcionamento
Quem optou por manter o restaurante em funcionamento durante a reforma foi o empreendedor Matheus Mason, proprietário do Benedito, em Campinas (SP). A obra, que durou cerca de cinco meses, foi dividida em etapas e planejada para interferir o mínimo possível na experiência do cliente. Segundo ele, fechar as portas nunca foi uma opção.
“Se o restaurante para completamente, o impacto no caixa é imediato. Além das despesas da obra, você continua tendo custos fixos, e o risco de comprometer o fluxo financeiro é grande. Por isso, decidimos reformar de forma faseada, mantendo o atendimento e adaptando a operação a cada etapa”, explica Matheus Mason.
Para isso, o Benedito organizou um cronograma de obras em três fases, separando os períodos com impacto direto e indireto ao público. Enquanto as áreas internas, como o telhado e o escritório administrativo, eram reformadas, a equipe trabalhava normalmente. Já nas etapas que envolviam a fachada e o acesso principal, foram criadas estratégias de isolamento visual e comunicação com os clientes para garantir que o restaurante permanecesse atrativo mesmo em meio à reforma.
Uma das soluções mais criativas foi o uso de adesivos e painéis personalizados que transformaram o tapume em um “túnel” decorado, simulando a entrada do restaurante. O espaço recebeu imagens do cardápio e uma arte divertida com o “Polvo Benedito”, prato símbolo da casa, usando capacete e martelo para representar a reforma.
“A ideia era mostrar que estávamos passando por mudanças, mas continuávamos de portas abertas e cuidando de cada detalhe da experiência do cliente”, conta Matheus.
Além disso, o empreendedor reorganizou o funcionamento da equipe com rodízio de férias e redução de extras, ajustando a escala de garçons conforme a queda temporária de movimento. Também reforçou o delivery, que cresceu cerca de 50% durante o período, e manteve o cardápio do almoço executivo como alternativa prática para segurar o fluxo de clientes nos dias de obra.
Mesmo com uma redução de cerca de 25% no movimento, o planejamento evitou prejuízos maiores e manteve a relação de confiança com o público. “O cliente entende o momento quando vê transparência e cuidado. O importante é manter a comunicação viva, nas redes sociais, na calçada, na conversa com quem chega. A reforma foi desafiadora, mas saímos dela com um restaurante renovado e um público ainda mais próximo”, afirma Matheus.
