Em boa parte dos estabelecimentos do setor de alimentação fora do lar, o ciclo se repete: contrata-se um novo colaborador e, no mesmo dia, ele já está em ação, sem um roteiro de integração, sem treinamento, sem preparo.
Visto muitas vezes como um custo, o treinamento inicial, ou onboarding, é negligenciado por parte dos empreendedores. Mas é justamente ele que determina se o novo funcionário vai se adaptar, entregar bons resultados e permanecer na empresa.
Treinamento inicial como ferramenta de retenção
A ausência de um treinamento estruturado tem um preço e ele costuma aparecer cedo. Erros operacionais, retrabalho, clientes insatisfeitos e, por fim, a rotatividade, um dos maiores desafios enfrentados pelo setor de alimentação fora do lar. Quando o colaborador não é preparado nem acolhido, o sentimento de desajuste surge rapidamente, e o ciclo se repete: demissão, nova contratação, novo erro.
É o que reforça o consultor e fundador da Politi Academy, Marcelo Politi. Para ele, a alta rotatividade é um sintoma direto da falta de preparo das equipes. Quando o funcionário é lançado à operação sem treinamento, a curva de aprendizado se torna um obstáculo.
Além disso, em um cenário onde boa parte das contratações é de profissionais sem experiência prévia, abrir mão de um treinamento inicial estruturado é um erro caro e recorrente.
De acordo com o especialista, um treinamento inicial bem planejado transforma o contexto do negócio porque:
“A alta rotatividade é causada, em grande parte, pela falta de preparo e desalinhamento dos novos funcionários. Um programa de onboarding estruturado e didático pode mudar esse cenário” Marcelo Politi
- Gera autonomia: o colaborador aprende a executar suas funções com segurança e independência, reduzindo erros e a sobrecarga da equipe;
- Fortalece a cultura: o onboarding conecta o novo funcionário aos valores e à visão da empresa, criando senso de pertencimento e engajamento;
- Assegura competência: o treinamento técnico garante que padrões de qualidade, higiene e atendimento sejam cumpridos com excelência e consistência.
Impacto financeiro do treinamento inicial
O impacto do treinamento inicial vai muito além da retenção. Embora muitos empreendedores ainda enxerguem o onboarding como um custo adicional, Politi defende que o olhar deve ser justamente o oposto: trata-se de um investimento estratégico que traz retorno direto em produtividade, qualidade e consistência operacional.
“É fundamental que o empresário encare o onboarding como um investimento estratégico em capital humano e operacional. Essa mudança de visão é baseada no impacto direto que um bom treinamento tem nos resultados financeiros e na sustentabilidade do negócio”, explica Politi.
De acordo com o especialista, A longo prazo, os resultados aparecem em diferentes frentes:
- Menos rotatividade: um onboarding eficaz reduz a rotatividade e evita o desperdício de tempo e recursos com contratações recorrentes;
- Mais produtividade: colaboradores bem treinados tornam-se autônomos mais rapidamente, mantendo a operação estável e eficiente;
- Qualidade constante: o treinamento padronizado garante processos consistentes, menos desperdício e um melhor custo de mercadoria vendida (CMV);
- Crescimento sustentável: ao formar pessoas e líderes preparados, a empresa ganha capacidade de escalar mantendo o mesmo padrão de excelência.
Como montar um treinamento inicial eficaz?
Um treinamento inicial eficaz vai além de apresentar regras e rotinas. Ele precisa educar o novo colaborador desde o primeiro contato com a operação. É o momento em que o profissional entende não apenas o que fazer, mas por que fazer.
Segundo Politi, um bom programa de onboarding deve começar com o que ele chama de “manual de sobrevivência”, um roteiro claro e padronizado que orienta o colaborador logo no início. O treinamento deve começar com uma integração completa, que ajude o novo funcionário a compreender o ambiente e as expectativas. Entre os principais pontos estão:
- Cultura e apresentação da empresa: história, missão, valores e filosofia de serviço. É aqui que o novo colaborador entende a essência do bar ou restaurante;
- Burocracia e políticas gerais: preenchimento de documentos, revisão de regras de conduta, horários, uniforme, uso de celular e procedimentos internos;
- Segurança e sanitização: boas práticas de higiene e segurança alimentar, manipulação correta de alimentos e prevenção de acidentes;
- Filosofia de atendimento: introdução ao conceito que consiste em ir além das expectativas do cliente e criar experiências de acolhimento;
- Tour e introdução ao cardápio: visita guiada por todas as áreas, salão, cozinha, bar, escritório, e o início do treinamento sobre o menu.
Depois da integração, o foco deve estar na aplicação prática, com módulos adaptados à função de cada colaborador. Politi recomenda que o treinamento tenha duração de vários dias, o suficiente para consolidar habilidades e comportamentos essenciais.
Entre os módulos indispensáveis de um bom treinamento estão aqueles que unem técnica, prática e comportamento. O primeiro passo é garantir que o colaborador tenha conhecimento profundo do cardápio, compreendendo ingredientes, métodos de preparo e até a pronúncia correta dos pratos. Degustar o menu, segundo Politi, é parte essencial desse aprendizado: o funcionário que conhece o sabor fala com confiança e vende com autenticidade.
No atendimento, o método OPA (Observar, Perceber, Atender) é a base para desenvolver o olhar atento e a capacidade de antecipar as necessidades do cliente, garantindo agilidade e hospitalidade.
Além disso, é indispensável incluir conteúdos operacionais, como a execução correta das tarefas de apoio e os procedimentos de fechamento de turno, pontos que asseguram eficiência e consistência no dia a dia da operação.
