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Avanço e domínio do Pix: o futuro do dinheiro é brasileiro

Criação brasileira, o pix já é um dos métodos de pagamento predominantes no país. Foto: Canva

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Assim como o mercado de delivery, os meios de pagamentos também estão passando por transformações e elas são encabeçadas pelo Pix. O futuro do dinheiro já é real e ocupa o cotidiano do setor

Brener Mouroli 16/10/2025 | 17:44

Quantas vezes você, dono de bar ou restaurante, manuseou uma nota de dinheiro hoje? Provavelmente, poucas. A carteira física, antes um item indispensável, dá lugar ao smartphone, e o som das moedas é substituído pela notificação silenciosa de uma transação confirmada. Esta não é uma tendência, mas uma realidade consolidada pela popularização dos cartões e, no Brasil, pelo aumento vertiginoso do Pix. Em 2024, segundo a FGV, o pix foi utilizado por 63% dos brasileiros pelo menos uma vez por mês. Além disso, cada usuário realizou, em média, 32 transações mensais, o que o tornou o método de transação mais utilizado no Brasil, ultrapassando métodos tradicionais como crédito e débito. 

A transformação é tão profunda que extrapolou as fronteiras nacionais, colocando o Brasil sob os holofotes da inovação financeira global. Para o economista Fabrício Feitosa, não há dúvidas: com o Pix, “o Brasil vai capitanear essa mudança, porque vai ser uma mudança mundial”. A afirmação ousada encontra eco na análise de gigantes da economia, como o prêmio Nobel de economia Paul Krugman, que em artigo sentenciou que “o Brasil pode ter criado o futuro do dinheiro”. 

No setor de alimentação fora do lar, um dos ambientes mais dinâmicos da economia, essa modalidade já é protagonista. Um levantamento da Abrasel de 2024 aponta que o Pix representa, em média, 16,5% do faturamento dos bares e restaurantes no país. O número, por si só expressivo, salta para impressionantes 25,5% na região Norte, um indicativo claro da sua capilaridade e adaptação aos hábitos regionais. 

Para Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel, os dados são a consequência de uma mudança de comportamento inevitável. “Hoje, o cliente quer rapidez, segurança e praticidade. Para os estabelecimentos, o impacto é igualmente positivo, com recebimentos instantâneos que facilitam o fluxo de caixa, melhoram a gestão e reduzem custos”, enfatiza. 

Mas como essa revolução se manifesta no dia a dia, para além das estatísticas? De um lado do balcão, gestores travam batalhas diárias por eficiência, segurança e alívio nas contas. Do outro, clientes cada vez mais digitalizados anseiam por agilidade, simplicidade e novas possibilidades. Esta é a história de como uma ferramenta de tecnologia financeira está redesenhando a relação entre quem serve e quem consome. 

O Lado do balcão  

Para quem comanda um negócio no setor de alimentação, a vida é um constante malabarismo entre gerenciar a cozinha, o salão e, crucialmente, as finanças. Nesse cenário, o Pix evoluiu de uma simples alternativa de pagamento para uma ferramenta de gestão estratégica, impactando desde o lucro bruto até a segurança patrimonial. 

Um dos benefícios mais celebrados pelos empresários é a drástica redução de custos com taxas. Para João Luna, do restaurante Casa de Moá, em Feira de Santana (BA), colocar os custos na ponta do lápis foi um choque de realidade. “Nos últimos quatro meses, eu gastei R$10.000 só com taxa de cartão de crédito. Se eu não tivesse o Pix, estaria gastando mais ainda”, revela. 

Nos últimos quatro meses, gastei R$ 10.000 só com taxa de cartão de crédito. Se eu não tivesse o Pix, estaria gastando mais aindaJoão Luna

A diferença também é sentida diretamente no caixa. Valdes Bastos, do Delícias da Oci, em Macapá (AP), detalha a economia: “Falando de números, uma taxa de débito é cerca de 0,89%, enquanto uma taxa de Pix é cerca de 0,5%. Isso faz uma diferença imensa no montante final”. A vantagem é dupla, pois além de mais barato, “o Pix cai de imediato na conta da empresa, o que melhorou bastante nosso fluxo de caixa”, completa Bastos.  

A economia potencial é tão grande que mudou a estratégia de gestão. Para Luna o pensamento é de que a equipe precisa estar preparada para converter vendas no cartão para o Pix. 

Da esquerda para direita: João Luna, proprietário do Restaurantes Casa de Moá e Priscila Leal, diretora de marketing e atendimento do restaurante. | Foto: Divulgação

Facilitando a vida dos empresários  

Para além das facilidades já conhecidas, que otimizam o atendimento e aumentam a produtividade, visto a agilidade proporcionada ao pagamento, o Pix é também um aliado à gestão e ao faturamento dos negócios.   

Como explica Célio Salles, conselheiro da Abrasel, a modalidade “possibilita que o dono do bar programe uma faixa de valor para ter suas contas descontadas automaticamente”.  

O Pix automático surge como uma alternativa facilitadora da rotina de gestores financeiros.  Para Luna, “isso será maravilhoso para pagar fornecedores e assinaturas de softwares. O tempo que gastamos com pagamentos manuais poderá ser usado para pensar em estratégia”. Além da automação, o Pix abre uma nova fronteira: a inteligência de dados, permitindo a criação de programas de fidelidade e promoções direcionadas. 

Para Feitosa, as novas modalidades do Pix, como o parcelado, trarão dois benefícios principais aos donos de negócios de alimentação fora do lar: aumento da lucratividade para o empresário e maior conveniência para o cliente. O economista destaca: “Posso vislumbrar um aumento de rendimentos e de lucros para os comerciantes. Além de uma praticidade para os clientes também”.  

Um dos pontos de destaque para os donos de bares e restaurantes são as taxas menores. Salles e Feitosa concordam que este é um dos principais benefícios aos empresários. Afinal, com taxas menores, as margens de lucro tendem a aumentar. “Com o Pix parcelado, por exemplo, a ideia é que essas taxas da maquininha sejam menores. E, dependendo da situação, até que não existam", destaca o economista. 

Segurança em primeiro lugar 

A digitalização dos pagamentos trouxe uma camada extra de segurança. Para Bastos, cujo negócio é 50% focado em delivery, o Pix foi um divisor de águas. 

“A gente tinha muita dificuldade com dinheiro em espécie: risco de assalto com o motoboy, cédulas rasuradas, problema com troco. Com o Pix, o cliente já paga na hora do pedido, o que nos dá uma segurança muito maior”, explica Bastos.  

Valdes Bastos, do Delícias da Oci. Foto: arquivo pessoal

Essa segurança também se aplica à gestão interna. Luna, que tem formação em tecnologia, tem um objetivo claro: “Eu tenho um sonho: não ter mais dinheiro para circular no restaurante. Se é tudo eletrônico, não tem como desviar. Isso vai diminuir em 99% a chance de desvio de dinheiro de caixa e acaba com a visão do assaltante de que ‘ali tem dinheiro em caixa’”, expressa. 

Apesar da empolgação com a digitalização, Bastos conta que o processo de adaptação sempre foi tranquilo e explica que a transição para o digital não foi isenta de percalços. “Quando começou, sofremos muitos golpes de comprovantes falsos”, lembra Bastos. “Hoje, nossas plataformas se atualizaram e temos sistemas que reconhecem o pagamento antes de liberar o pedido”. A regra de ouro é a mesma para Luna: “Nossa política é: checar sempre a conta, não confiar somente no comprovante. Se não estiver na nossa conta, não considero como pago”. 

Hoje, nossas plataformas se atualizaram e temos sistemas que reconhecem o pagamento antes de liberar o pedidoValdes Bastos

Além das ações internas, a educação digital também é fundamental. Especialistas, como Carlos Netto, CEO da Matera e um dos nomes por trás da criação do Pix, são enfáticos na recomendação aos donos de bares e restaurantes: “Nunca use QR Code estático. Use sempre o QR Code dinâmico, gerado na hora, pois ele é único para cada compra e muito mais seguro”. 

Para ver a perspectiva de seu cliente sobre o uso do pix e ter mais ideias acerca dessa ferramenta, confira o texto "O Futuro do Dinheiro" completo na edição 165 da Revista B&R.

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