Em seu blog Cozinha Bruta, o jornalista gastronômico Marcos Nogueira classificou 2024 como o ano da "tsunami do pistache". O ingrediente invadiu não só a nossa confeitaria, mas se mostrou uma tendência em vários pontos da gastronomia, inundando receitas de drinks e até hambúrgueres numa saturação quase leviana. O fenômeno influenciou até as nossas importações: no ano passado o Brasil comprou mais de 900 toneladas de pistache só dos americanos.
Quando falamos em tendências há sempre o questionamento: vai vingar ou não? Puxando aqui na memória sem maiores esforços há uma lista de modas que ficaram pelo caminho enquanto outras conseguiram se firmar: Nutella, paleteria mexicana, temakeria, hamburgueria artesanal, crepes e açaís (ao menos a versão como é conhecida fora da região norte do Brasil).
Como o Pinterest ‘escolheu’ o picles?
O novo queridinho, aparentemente, é o famigerado picles (resumidamente uma conserva de pepino, em sua versão mais tradicional, mas vamos falar disso mais adiante). A afirmação não é minha - eu não teria essa pretensão - é do Pinterest, uma rede social que permite descobrir, compartilhar e salvar ideias. Funcionando como uma espécie de ‘quadro de inspirações’, possui mais de 500 milhões de usuários ativos mensalmente em todo o mundo, 40 milhões deles no Brasil.
Em seu relatório anual divulgado recentemente, o Pinterest Predicts, a plataforma analisou dados quem preveem tendências em diversas áreas, como moda, beleza, decoração e gastronomia. Este relatório oferece uma visão abrangente sobre o que estará em alta em 2025. A pesquisa utiliza dados de palavras-chave e tecnologia de pesquisa visual para identificar tendências emergentes.
Intitulada “Picle-se”, eis a apresentação do insumo pelo site:
“Quem diria: em 2025, o humilde pepino vai ser promovido a picles — e a uma verdadeira paixão culinária. Munidos de um vidro de salmoura e um sonho, a geração X e os millennials vão levar esse toque ácido a preparos clássicos e a outros não tão óbvios, do drinque ao doce, passando pelo petisco.”
E como funciona na prática? A plataforma utiliza inteligência artificial para indicar imagens que representam os usuários – como comidas que estão em alta no momento. Quando a pessoa clica e “pina” (dá um pin) uma imagem, colocando a foto em sua pasta pessoal, o algoritmo entende que ela gosta do tema e tende a indicar outras fotos parecidas.
Quais os resultados envolvendo picles?
Margarita com picles: +100%, picles frito: +50%, picles de pico de gallo; +65%, bolo de picles: +45%, picles frito com molho: +80%.
Uma salmoura de oportunidades!
Ok, ok, ok. Você chegou até essa parte do texto talvez exclamando: “mas picles não é só pepino!” e está certíssimo.
E aí começa uma conversa sobre o picles, que antes era apenas o azedinho no sanduíche do seu bar ou restaurante, será cada vez mais notado com sua gama de versatilidade ao deixar de ser um tempero extra para um novo patamar gastronômico e se tornar também um lifestyle de consumo, principalmente entre a geração X (grupo de pessoas nascidas entre 1960 e 1980) e os millenials (nascidas entre 1981 e 1996).
Existem várias marcas, como a moderninha Good Girl Snacks, que estão hypando no Tik Tok, alguma delas com um brand divertido, com garotas abrindo potes e potes comendo com um lanchinho da tarde ou até mesmo antecedente ao jantar.
Não custa lembrar: o custo de se fermentar um vegetal é baixíssimo comparado a outros insumos de empreendimentos gastronômicos. Basta criatividade e respeito ao processo (com um toque de paciência). Em um mercado onde a comida afetiva está autenticamente se tornando uma tendência (falaremos disso na próxima coluna), oferecer originalidade aos clientes pode ser um passo para o seu negócio sair da mesmice e se destacar no segmento.
Para o empreendedor que quer se aventurar na cozinha, eu pessoalmente recomendo as oficinas da cozinheira Carolina Dini, conhecida por seu projeto Cebola na Manteiga.
Boa sorte e bons picles!