Ao entrar no Trintaeum Restaurante, em Belo Horizonte, já se sente o abraço da culinária mineira. Logo de início, os visitantes são recebidos com a tradicional “mentira de polvilho” – um petisco improvisado, assado de ‘última hora’ para acolher quem chega sem aviso, como se faz no interior.
Comandado pela chef Ana Gabi Costa, o Trintaeum propõe uma imersão na cozinha mineira tradicional com um toque contemporâneo. A chef conta que buscou inspiração nas lembranças da infância na casa da bisavó, no interior de Minas, para estruturar o menu servido na casa.
“É uma cozinha mineira baseada nos clássicos, na comida de interior, mas com um toque de elegância e sofisticação. Não nos propomos a fazer pratos mineiros descaracterizados. Era muito importante manter essa característica, em que olhamos para o prato e entendemos de imediato que estamos falando de cozinha mineira”, enfatiza a chef.
Culinária mineira em diferentes versões
Um dos pilares dessa ponte entre tradição e sofisticação é o angu, preparo de fubá (farinha de milho), onipresente nas mesas mineiras.
“O milho é muito presente na tradição alimentar de Minas, sobretudo com o angu, que aparece em nosso cardápio de várias formas: angu lavado de milho verde, angu de fubá, angu de canjica. Cada um tem suas nuances de sabor e textura, que agregam a diferentes pratos”, explica a chef.
No Trintaeum, essa versatilidade se confirma em pratos emblemáticos: o Frango com quiabo traz angu lavado de milho verde, quiabo e gema de ovo; o Porco sem Mágoas vem sobre angu de canjica branca com queijo e taioba, realçando o lombo braseado ao molho de cachaça e limão; já o clássico Feijão, Angu e Couve serve o angu de fubá ao lado de feijão cozido no caldo de porco e couve refogada, simples e reconfortante.
Essa dedicação aos ingredientes regionais se repete em todo o menu. Insumos típicos de Minas ganham interpretações criativas: o pastel de angu, com massa de fubá bem sequinha, vem recheado de umbigo de banana e requeijão de raspa – crocante por fora e cremoso por dentro, concentrando em cada mordida um pedacinho da roça.
Outros petiscos seguem a mesma linha, caso do jiló recheado com fígado e empanado em pururuca, ou do bolinho de feijão-fradinho servido com molho caipira picante – prova de que mesmo ingredientes simples viram estrelas nas mãos da chef.
Sobremesas de Minas
As sobremesas têm um papel de destaque à altura do salgado. A chef faz questão de dar às sobremesas o mesmo cuidado dedicado aos pratos principais, e isso se reflete na carta açucarada, que explora lembranças das quitandas e fazendas com frescor inventivo.
As opções vão do tradicional pudim de leite condensado (servido com compota de ameixa ao perfume de cachaça) ao cremoso curau de milho verde com calda de laranja e crocante de canela. Passam ainda pela clássica ambrosia, acompanhada de bolo de amendoim e doce de mamão verde, e chegam à irreverente torta Meu Amor em Pedaços, que reúne torta de abacaxi, biscoito amanteigado e sorvete de leite, cobertas por um rendado crocante de abacaxi.
Degustação imersiva nos queijos mineiros
Minas Gerais e queijo formam uma dupla inseparável. Os queijos artesanais do estado aparecem em várias etapas da refeição na casa: do requeijão de raspa no pastel de angu à mousse de queijo de cabra que protagoniza a sobremesa Queijo, compotas e doce de leite.
Além disso, para a alegria dos apaixonados pelo alimento, a casa oferece também uma degustação guiada de queijos mineiros selecionados. É uma viagem pelos sabores Minas sem sair da capital, que acontece como opção extra nos jantares reservados. Junto do deguste, ainda é explicado aos clientes sobre a origem e harmonização de cada tipo oferecido, pelo especialista Eduardo Girão.
Vinhos exclusivamente locais (e drinks também)
Para acompanhar o passeio gastronômico, a carta de bebidas também celebra o território local. Os vinhos são exclusivamente de vinícolas mineiras, enquanto os drinks reinventam coquetéis clássicos com ingredientes regionais.
O tradicional Rabo de Galo, por exemplo, ganha versão com vermute de jabuticaba e perfume de laranja; e a Caipirinha é adoçada com rapadura, exaltando o sabor do limão. Essas e outras criações originais levam o DNA mineiro aos copos. Até mesmo os refrigerantes e cervejas artesanais servidos vêm de produtores de Minas, fechando o círculo de regionalidade em cada detalhe.
Assim, a coquetelaria do Trintaeum, assinada pelo mixologista Cássio Batista, eleva ainda mais essa proposta ao adaptar drinks clássicos aos insumos locais e trazer a cachaça como protagonista.
Na prateleira, a seleção de cachaças conduz os clientes por um percurso sensorial pelos rótulos emblemáticos do estado – dos históricos, como a Colombina Cristal, aos premiados, como a glamourosa Havana, de Salinas.