O consumo de drinks sem álcool tem ganhado cada vez mais popularidade, especialmente entre os millennials (1984 a 1995) e a geração Z (1996 a 2009).

Embora essa tendência não seja exatamente nova, o crescente interesse por um estilo de vida mais saudável e equilibrado está impulsionando uma mudança significativa nas escolhas dos consumidores.

Hoje, bebidas não alcoólicas estão se destacando como um segmento promissor no setor de bares e restaurantes, transformando-se em uma oportunidade estratégica para ampliar o público e aumentar as vendas. 

O mercado de drinks zero álcool

O que antes era visto com ceticismo financeiro, afinal, as bebidas alcoólicas sempre geraram mais renda, agora é um mercado em expansão. As bebidas sem álcool chegaram com potencial de atrair uma clientela diversificada e oferecer experiências gastronômicas inclusivas.

Conforme dados do Panorama Álcool e Saúde 2024, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), 55,3% da população brasileira não consome álcool. Além disso, 23,9% estão enquadrados no grupo de consumidores não abusivos e 20,8% são os chamados consumidores abusivos. Estes dados apresentam o amplo universo a ser explorado dos coquetéis não alcoólicos.

Por outro lado, a empresa de pesquisa Global Market Insights (GMI), diz que o mercado mundial de adaptógenos, que insere as bebidas adaptogênicas, aquelas possuem substâncias naturais como ervas, raízes e fungos, que ajudam o corpo a se adaptar e lidar melhor com o estresse físico, mental e emocional, está em crescimento vertiginoso.

Segundo as informações da GMI, em 2022, o mercado foi avaliado em mais de US$ 10 bilhões, com previsão de atingir US$ 19 bilhões até 2032. Estes números demonstram o interesse pelos produtos mais saudáveis.

O Brasil, alinhado a tendências globais, também está vivenciando uma mudança cultural no consumo de álcool. A partir dessa transformação, o mercado traz não apenas novos produtos, mas também novas experiências gastronômicas, criando uma cultura de consumo mais diversa e acolhedora.

Posto isso, um universo de oportunidades se abre para que empreendedores possam aumentar suas vendas e atingir um público ainda pouco explorado.

Oportunidades e desafios para bares e restaurantes

Para bares e restaurantes, a inclusão de bebidas sem álcool no cardápio representa uma oportunidade estratégica. Em outras palavras, não se trata apenas da possibilidade de melhorar a experiência dos clientes, mas também ter a possibilidade de atingir uma parcela grande de consumidores. Logo, aumentar a margem de lucro e o tíquete médio.
Martin Barrios Casilli, chef do Grupo Sky Hall, explica como tem sentido o potencial deste mercado.

"Ainda estamos em uma fase preliminar de estudo sobre o impacto real, mas a adesão do público tem sido muito boa, especialmente durante o horário de almoço executivo. Estamos prevendo um aumento de aproximadamente 5% no consumo nesses momentos", ressalta.

Contando sobre a sua experiencia, o bartender Yvens Penna, responsável pelo Muamba Bar e o projeto Amazônia Sour, em Belém (Pará), visualiza que “existe uma leva de pessoas que pararam de beber por diversos motivos. Fato é que se você oferece um lugar de acolhimento para essas pessoas, você as fideliza”, ressalta.

A maioria dos donos de bares e restaurantes tende a colocar drinks sem álcool em uma seção menos chamativa do cardápio e sem dar o devido treinamento aos garçons e os demais da sua equipeFernando SpolaorAlém disso, destaca que para aproveitar este mercado é preciso seriedade e compromisso. “Ainda são pouquíssimos os lugares que trabalham em coquetelaria sem álcool de forma séria, técnica e madura. Então, se você oferece isso de forma séria, você atrai muita gente que está à procura desse lugar. Eu sinto pelo meu estabelecimento".

Embora este seja um mercado promissor, o mixologista Fernando Spolaor, pontua que um dos maiores erros cometidos pelos bares e restaurantes é a maneira como apresentam estes drinks, o que pode criar uma barreira para atingir o público pretendido.

Para ele, os drinks sem álcool possuem um grande apelo, porém não é algo que se vende sozinho. Por isso, ele evidência ser necessário que a equipe esteja antenada para conseguir sugerir os drinks não alcoólicos aos clientes.

Inovação em drinks sem álcool

Além disso, os empresários do setor têm a chance de inovar no padrão de qualidade ao desenvolver drinks e coquetéis que sejam atraentes, inovadores e saborosos.

Para Spolaor, a criação de drinks alcoólicos é mais fácil, devido a um vasto histórico e inúmeras receitas que servem como referência. Entretanto, reforça que os drinks sem álcool são desafiadores na hora de transformá-los em algo atraente.

"No caso dos drinks sem álcool, o desafio é grande, pois precisamos evitar que eles se tornem apenas sucos disfarçados de drinks. A grande particularidade dos drinks sem álcool está em criar algo que não seja excessivamente doce, mas que ainda tenha o apelo visual e o charme dos drinks alcoólicos", afirma Spolaor.

Penna acredita que os drinks sem álcool elevam o nível da coquetelaria. Para ele, “ela tira do lugar somente do consumo de álcool e cresce sob o guarda-chuva da cultura gastronômica”. Pontuando ainda que “o maior desafio, na verdade, é esse background técnico pra você saber equilibrar um coquetel com acidez, corpo, dulçor num copo e oferecer um gole cheio de complexidade que a pessoa tenha a sensação que tá bebendo um belo de um coquetel”.

Público e investimentos

Mudando o rumo do consumo, os jovens e adultos estão encontrando motivos para não consumirem bebidas destiladas. Assim, eles optam por encontros sociais mais contidos e com foco em diversão longe do álcool. 
Essa tendência já foi percebida por Casilli, que conta como tem visto o interesse da clientela do grupo que é chef pelos coquetéis não alcoólicos.

“Foi um momento de grande percepção entender a necessidade do mercado. Meu pai, que não bebe há mais de 30 anos, sempre ficava frustrado pela falta de opções mais elaborados para ele. Então, sempre que ele me visitava no restaurante, criávamos bebidas mais sofisticadas para ele, e os outros clientes ao redor também se interessavam em experimentar!”, conta Casilli.

Seguindo esta percepção, este tipo de drink vem se firmando como alternativa de alta qualidade. Spolaor, ressalta que este é um estilo de coqueteleira que está cada vez mais inserida no mercado.

“Esse é, sem dúvida, um estilo de coquetelaria que está ganhando cada vez mais espaço no mercado. Tanto fora do país quanto no Brasil, já temos versões clássicas de coquetéis e destilados sem álcool. O período pós-pandemia fez com que muitas pessoas se tornassem mais conscientes sobre o consumo de álcool e alimentação, e por isso acredito que os drinks sem álcool terão cada vez mais espaço” pontua Spolaor.

Analisando o cenário, Penna elenca que um dos motivos para investir nos drinks sem álcool é o retorno financeiro trazido por eles. “A coquetelaria sem álcool é um grande ativo, um grande vetor de faturamento para o bar, muito interessante. Oferecer uma solução que dispense esse destilado importado, realmente é um grande vetor de faturamento”, conta.

O futuro das bebidas sem álcool

O futuro das bebidas sem álcool no Brasil é próspero. O crescente interesse dos consumidores por um estilo de vida equilibrado, somado à inovação das indústrias e à adaptação dos bares e restaurantes, indica que esse mercado está longe de ser uma moda passageira.

Pelo contrário, ele representa uma mudança de comportamento que veio para ficar, oferecendo aos estabelecimentos a chance de se posicionarem como líderes em uma nova era do consumo consciente.

Para Casilli, o Brasil ainda está em um processo de descoberta do mercado. Por isso, ele acredita que “com certeza iremos ver uma implementação mais fácil em cidades de grandes centros e de altas temperaturas, como um meio de se refrescas sem ingerir o álcool em si”.

À medida que a aceitação e a oferta de bebidas sem álcool aumentam, os bares e restaurantes que adotarem essa tendência desde já terão um diferencial competitivo significativo.

Inovar e diversificar o cardápio com drinks sem álcool, oferecendo uma experiência inclusiva e completa, é o caminho para atrair novos clientes e garantir a fidelização dos antigos.

Confira a seguir: Como bares estão aproceitando a tendência dos drinks sem álcool

Duda Gomes conta um pouco sobre como o bar Amadis, localizado na capital mineira, tem sido disrruptivo na criação de drinks sem alcool com autenticidade, criatividade e sabores únicos.