Como líder de uma entidade que representa milhões de bares e restaurantes no Brasil, acredito que a defesa do livre mercado não é apenas um princípio econômico: é, antes de tudo, uma questão de cuidar do consumidor e garantir seu direito de escolha. Um ambiente equilibrado protege quem consome, assegurando diversidade de soluções e inovação. Obviamente, isso também atende ao interesse daqueles que acreditam em um mercado aberto, com amplas oportunidades e liberdade para empreender.
Nos últimos anos, vimos crescer a influência das plataformas de delivery. Elas são fundamentais para conectar restaurantes e consumidores, mas também carregam responsabilidades. Quando uma empresa domina cerca de 80% do mercado, como é o caso do iFood, surgem riscos claros de práticas anticoncorrenciais. Não é à toa que o Cade analisa denúncias sobre cláusulas de exclusividade e barreiras à entrada de concorrentes. Isso não é saudável para o setor nem para os consumidores.
Outro ponto que precisa ser esclarecido é a narrativa de que o iFood seria uma “empresa brasileira”. Tecnicamente, qualquer empresa que atua legalmente no país e abre um CNPJ é considerada brasileira. Mas isso não pode ser usado para mascarar a realidade: o iFood é 100% controlado por capital estrangeiro. E isso não é um problema em si (o Brasil precisa de investimento externo), mas é desonesto ludibriar e querer se apresentar como diferente nesse aspecto, já que outras plataformas como Rappi, 99Food e Keeta são também empresas brasileiras controladas por grupos internacionais.
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Durante o processo no Cade, o iFood chegou a acusar a Abrasel de atuar para favorecer concorrentes estrangeiros, como se nossa defesa da concorrência justa fosse uma estratégia contra uma empresa “brasileira”. |
Essa acusação é infundada e desvia o foco do debate real: práticas que podem restringir a liberdade de escolha e sufocar a inovação. A Abrasel não defende empresas específicas: defende princípios. Queremos um mercado aberto, em que nenhuma plataforma abuse de sua posição dominante para limitar a escolha do consumidor.
Para quem está na ponta, cada cláusula de exclusividade imposta por uma plataforma significa menos liberdade para negociar, menos margem para inovar e, muitas vezes, mais custos. Um mercado saudável precisa de diversidade de atores, regras claras e fiscalização efetiva. Só assim conseguimos garantir que o pequeno empreendedor tenha condições de competir e crescer.
A Abrasel defende um ambiente de negócios aberto, em que a inovação seja incentivada e não sufocada. Queremos que novas soluções surjam, que diferentes modelos coexistam e que o consumidor tenha poder de escolha. Isso só é possível quando há equilíbrio e quando práticas abusivas são coibidas.
Em resumo: não estamos contra nenhuma empresa. Estamos contra práticas que distorcem o mercado e prejudicam milhares de empreendedores. Livre mercado não é terra sem lei: é um espaço regulado para que todos possam competir de forma justa. Nossa atuação é em defesa do setor de alimentação fora do lar, não de interesses particulares. Quando o mercado é equilibrado, todos ganham: restaurantes, consumidores e as próprias plataformas.
