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CEO da Keeta revela estratégia para conquistar o mercado brasileiro

Tony Qiu posa com o capacete tecnológico desenvolvido pela Keeta, que também pretende investir em melhores condições de trabalho para os entregadores como diferencial competitivo. | Foto: Jhonie Melo

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Em entrevista exclusiva para a B&R, CEO da Keeta explica quais são as expectativas, planos e estratégias que a gigante do delivery chinês tem para o país

José Eduardo Camargo 29/10/2025 | 16:19

Com uma trajetória marcada por ousadia estratégica e domínio tecnológico, Tony Qiu chega ao Brasil como CEO da Keeta com uma missão ambiciosa: desafiar a hegemonia do iFood e transformar o mercado de delivery. Ex-CEO da 99 e atual vice-presidente da gigante chinesa Meituan, Qiu lidera a operação brasileira da Keeta, braço internacional da empresa que processa mais de 80 milhões de pedidos por dia na China.  

À frente de um plano de investimento de R$ 5,6 bilhões, ele aposta em eficiência, tecnologia proprietária e parceria com restaurantes e entregadores para conquistar mil cidades até 2026. Com olhar afiado para o potencial do mercado nacional e críticas à concentração do setor, Tony Qiu representa uma nova era de competição e inovação no food service brasileiro 

Confira a entrevista exclusiva do CEO da Keeta, Tony Qiu, à B&R:

B&R: Qual é a estratégia da Meituan para o Brasil? 

Tony Qiu: O Brasil é um mercado muito importante para nós, o quinto maior do mundo depois de China, EUA, Reino Unido e Coreia do Sul, e está crescendo muito rápido. Hoje, o mercado brasileiro de delivery movimenta cerca de 12 bilhões de dólares e cresce 20% ao ano. Nossa meta é superar o Reino Unido e nos tornar o quarto maior mercado global. Nosso plano é de longo prazo, com investimento de 5,6 bilhões em cinco anos. Queremos construir um piloto de qualidade na cidade de Santos, com boa experiência e equipe afinada, antes de lançar em outras cidades. Nossa estratégia é oferecer um serviço melhor para consumidores, restaurantes e entregadores, usando tecnologia e operação para agregar valor a todos. 

Como a Meituan pretende ajudar bares e restaurantes a crescerem? 

No Brasil, o mercado é muito fragmentado, com muitos restaurantes pequenos. Nos EUA, as grandes redes representam 40% das vendas, mas aqui são apenas 10%. Por isso, desenvolvemos ferramentas digitais para ajudar pequenos restaurantes a crescerem e melhorarem seus lucros. Temos uma equipe dedicada a dar suporte até aos menores restaurantes, não só as grandes cadeias. Queremos que todos tenham acesso a bons serviços e possam competir de forma justa. 

B&R: Quais são os principais oportunidades para o delivery no Brasil? 

Tony Qiu: Hoje, estimamos entre 50 e 60 milhões de consumidores ativos de delivery no Brasil, e acreditamos que esse número pode dobrar. Atualmente, cada consumidor faz cerca de três pedidos por mês, mas nossa expectativa é que essa frequência também aumente, como já acontece em outros mercados, como China e Arábia Saudita. 
 
Para que isso aconteça, precisamos tornar o serviço mais relevante, especialmente no horário do almoço, onde a penetração ainda é baixa no Brasil. Parte disso é cultural, pois as pessoas gostam de sair e socializar, mas também há questões operacionais: muitos têm apenas uma hora de almoço e, se o pedido não chega a tempo, acabam desistindo.

Por isso, é fundamental que os restaurantes consigam preparar a comida mais rápido e, do nosso lado, aprimoramos nossos algoritmos para garantir entregas ágeis e estimular a demanda. Também é importante melhorar a embalagem para manter a qualidade dos alimentos. Na China, ajudamos restaurantes a separar linhas de produção para delivery e loja física, aumentando a eficiência. Para isso, teremos contato muito estreito e personalizado com os restaurantes no Brasil. 

B&R: Qual é a estratégia da Keeta para embalar bem (o chamado packaging)? 

Tony Qiu: Embalar bem a comida é fundamental. Os consumidores brasileiros gostam de carnes, picanha, mas muitas vezes esses alimentos chegam frios. Por isso, a qualidade da embalagem e o cuidado com o preparo são essenciais. Na China, acumulamos muita experiência trabalhando com restaurantes para melhorar embalagens e processos. Lá, muitos estabelecimentos já separaram as linhas de produção para o salão e para o delivery, tornando a operação mais eficiente sem prejudicar a experiência presencial. Trabalhando juntos, conseguimos aumentar a eficiência, acelerar o preparo e, com o suporte dos nossos algoritmos, entregar refeições em melhores condições para os consumidores. 

B&R: Que tecnologias a Meituan pretende trazer para o Brasil? 

Tony Qiu: Na China, oferecemos CRM (programa de gestão de relacionamento com os clientes) para restaurantes, permitindo que eles gerenciem pedidos, pagamentos e campanhas de marketing pelo celular. Também temos serviços de compras e cupons para atrair clientes. Mas a tecnologia mais importante é o algoritmo de logística, que otimiza o despacho dos pedidos para os entregadores. Com 80 milhões de pedidos diários na China, treinamos nossos modelos para saber quando e para quem despachar cada pedido. No Brasil, vamos precisar de alguns meses para treinar os dados locais. A Inteligência Artificial pode ajudar os restaurantes a criarem campanhas personalizadas e analisar resultados. Para os consumidores, lançamos uma ferramenta que recomenda pratos e restaurantes com base em preferências e comportamento, já disponível na China e em breve no Brasil.Forma 

B&R: Como a Meituan lida com a competição e exclusividade no mercado brasileiro? 

Tony Qiu: Nosso diferencial está na eficiência logística, na abertura de mercado e no cuidado no relacionamento com os restaurantes e entregadores. Não trabalhamos com exclusividade e queremos que todos possam usar todas as plataformas. Acreditamos que a competição saudável deve ser baseada em produto, operação e tecnologia, não apenas em subsídios ou bloqueio de restaurantes. 

B&R: Quais são as políticas de pagamento e apoio financeiro para restaurantes? 

Tony Qiu: Sabemos que pequenos restaurantes têm fluxo de caixa curto, então estudamos oferecer antecipação de pagamentos com taxas competitivas. Para financiamentos específicos, como cozinhas exclusivas para delivery, estamos avaliando parcerias e formas de medir os riscos, pois ainda não temos esse serviço no Brasil. Os pequenos restaurantes às vezes precisam entregar a distâncias maiores para acessar mais clientes. O custo do delivery é alto, então precisamos ser eficientes para reduzir esse custo e tornar o serviço acessível. 

B&R: Como a Meituan pretende apoiar restaurantes pequenos e independentes? 

Tony Qiu: Nossa força está em servir milhões de restaurantes pequenos na China, e queremos replicar isso no Brasil. Temos um manual de boas práticas e ferramentas para treinar restaurantes, ajudar na gestão de menus e campanhas de marketing. O contato é pessoal e digital, com equipes dedicadas a apoiar o crescimento dos negócios locais. 

B&R: Qual mensagem você deixa para os restaurantes brasileiros neste momento? 

Tony Qiu: Queremos trabalhar com todos os parceiros, considerando tanto consumidores quanto restaurantes como clientes. Nossa tecnologia, operação e experiência podem ajudar restaurantes a crescerem, aumentarem lucros e conquistarem mais clientes. Buscamos construir um negócio sustentável, onde todos os envolvidos no ecossistema sejam beneficiados. 

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