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Violência contra pessoas LGBT+ em bares e restaurantes: como agir?

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Treinamento para lidar com diferentes tipos de assédio ou agressões contra a comunidade LGBTQIAPN+ é uma medida de proteção às pessoas e ao seu negócio

Yasmim Paulino 26/06/2025 | 14:11

Essencial na economia brasileira, bares e restaurantes se destacam como ambientes que retratam a diversidade do nosso país. Mas, em uma sociedade preconceituosa, esses espaços podem também ser palco de constrangimentos, assédios ou até crimes. Em situações em que muitas vezes não existem protocolos para agir na 'hora H', o que pode ser feito?  

Tão importante quanto investir na sua cozinha, limpeza, design do ambiente, é criar medidas que protejam as pessoas dentro do seu estabelecimento. Léo Drummond, diretor e um dos fundadores da Diversifica, consultoria especializada em diversidade e inclusão para empresas, vai direto ao ponto. “Quando a gente fala de questões de discriminação e de preconceito dentro dos próprios estabelecimentos, a melhor estratégia de gestão de crise é evitar que ela aconteça”.  

Autor dos livros ABC do LGBTQIAPN+ e Diversidade em Pauta, Leo destaca que uma boa forma de começar a implementar um ambiente acolhedor para um público diverso é oferecendo um treinamento de equipe. Os colaboradores se sentem mais seguros e se nutrem de informação para lidar com o público.  

“O treinamento de equipe é necessário porque às vezes a discriminação e violência vem da própria equipe, de clientes, garçons, seguranças. É fundamental que a gente evite que as pessoas venham com os preconceitos de casa ou de suas próprias histórias e transformar em atos dentro do nosso estabelecimento”.

O treinamento não só assegura a sua equipe em trabalhar de maneira mais acolhedora com diferentes tipos de pessoas como também protege quem é da casa. “A diversidade e a inclusão fazem diferença para as pessoas que estão ali na empresa e as que são atendidas, que se sentem mais respeitadas e podem ser elas mesmas naquele espaço”, destacou Leo Drummond, da Diversifica. 

Leo Drummond é diretor e um dos fundadores da Diversifica, consultoria especializada em diversidade e inclusão para empresas. 

O que fazer no momento crítico?

Mesmo com medidas de segurança, situações de constrangimento ou violência podem acontecer e na hora H o melhor caminho é seguir um protocolo. “O primeiro cuidado é com quem sofrer essa discriminação. Depois não deixar passar em branco”, diz Leo.  

De maneira ágil, a equipe precisa entender rapidamente onde a ação se encaixa: se é necessário comunicar à polícia, acionar a segurança, retirar o agressor, esconder a vítima em algum espaço, consultar imagens de câmeras do lugar, por exemplo.  

Essa agilidade do momento auxilia até mesmo em processos criminais, como foi o caso do estupro praticado pelo jogador de futebol, Daniel Alves, na Espanha, em 2022. A agilidade da equipe de segurança em seguir um protocolo de agressão sexual foi determinante para que a acusação ganhasse legitimidade. 

As atitudes violentas, muitas vezes, não se manifestam apenas no contato físico.  Os agressores entendem que atitudes menos gritantes podem passar despercebidas para a maioria das pessoas. Situações de agressão, seja verbal, física ou em atitudes mais sutis, como olhares, comentários atravessados ou bullying são alguns exemplos. 

“A gente tem que ver o que que tem que ser feito porque a depender da ação pode ter sido um crime dentro do seu estabelecimento. Racismo e LGBTfobia são crimes, previstos em lei. A gente não pode deixar um crime de violência física acontecer dentro do nosso estabelecimento, então a gente não pode deixar esses outros crimes acontecerem também. E aí, qual que é o nosso protocolo de quando acontece?”, explicou, Leo, da Diversifica.  

Nesses momentos, fingir que não aconteceu para tentar “abafar” comentários e se proteger é ‘um tiro no pé’. Atitudes como essa alimentam a crise e deslegitimam a vítima, que recebe silêncio em vez de apoio.

A pesquisadora da área de Comunicação e temáticas LGBT+, Maria Clara Soares, destaca o papel da Comunicação dos bares restaurantes: “A equipe de comunicação desse local tem um papel fundamental, que é estabelecer uma comunicação próxima e assertiva com a comunidade LGBTQIAPN+”. 

Investir em medidas como treinamentos, cartilhas, contratação de uma equipe diversa, tudo isso protege as pessoas dentro do seu espaço e ainda contribui para uma boa reputação do seu negócio.    

“A gente vai ter mais lucro também porque com tudo isso acontecendo e o engajamento da imagem do negócio, a gente acaba também tendo melhores resultados financeiros. Faz bem para as pessoas, para a sociedade e para a própria empresa”, observa Leo Drummond.  

Medidas de segurança para replicar  

Estabelecer um limite do que é inaceitável é um posicionamento importante para bares e restaurantes. “Levando em consideração como essa é uma comunidade de pessoas que, infelizmente, é vítima de frequentes de discriminações em diversos ambientes, é essencial pensar em protocolos que demonstrem que a postura do estabelecimento é a de não se omitir e não permitir que violências aconteçam”, diz Maria Clara. 

Os sócios do bar Quinteiro, André Calixto e Vinicius Duarte, implementaram medidas desde os processos seletivos da equipe até o regimento interno da casa.  

"Desde o processo de contratação, priorizamos a inclusão de pessoas LGBTQIAPN+, deixamos claro que nosso ambiente é inclusivo e não tolerando nenhum tipo de discriminação. Essa diretriz está formalizada em nosso regimento interno, que estabelece que qualquer situação de constrangimento ou violência deve ser reportada imediatamente à gerência ou à liderança responsável, como eu ou a pessoa gerente da casa". 

O espaço criado pelos dois amigos é popularmente conhecido como uma casa acolhedora para diferentes públicos, com uma programação diversa e comunicação aberta sobre os valores de acolhimento da casa. Segundo os parceiros de negócio, não foi necessário um treinamento estratégico, já que a própria equipe compartilha dos mesmos valores de respeito à diversidade e fazem uso do protocolo em situações de crise. 

“Nosso compromisso é agir com firmeza, sem ser conivente com atitudes discriminatórias, seja entre colegas de trabalho ou envolvendo clientes. Ao compor majoritariamente a equipe com pessoas LGBTQIAPN+, buscamos oferecer um ambiente minimamente seguro que preserve a saúde mental e física das pessoas que trabalham conosco”.

O seu bar ou restaurante não precisa ser um espaço exclusivamente para pessoas LGBTQIA+, mas deve ser um espaço seguro para qualquer pessoa. Uma boa pedida pode ser espalhar cartazes pelo espaço com mensagens de apoio ou direcionando os valores do seu estabelecimento.  

“Uma boa prática que eu já vi em vários bares e restaurantes no mundo e no Brasil também, é colar alguns cartazes no estabelecimento. Por exemplo, um cartaz falando que é um que o lugar livre de preconceitos e não se tolera nenhum tipo de discriminação e assédio. Alguns outros com dicas para caso você estiver sofrendo algum tipo de assédio ou importunação sobre como que você pode dar um sinal de alerta para os garçons ou para a equipe de segurança para que eles entendam que eles precisam de apoiar”, finaliza Leo Drummond, sobre dicas valiosas de segurança. 

No geral, agressores ficam mais à vontade para praticar violências em lugares onde sabem que não existe espaço para repressões. Se o seu espaço demonstra estar ligado em medidas de proteção, as chances de algum tipo de constrangimento contra pessoas LGBTQIA+, mulheres, crianças, pessoas negras ou qualquer outro tipo de grupo mais vulnerável, é muito menor.  

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