A chegada da inteligência artificial (IA) revolucionou o mercado como um todo e automatizou diversos processos de gestão dos bares e restaurantes, entretanto, muitas dúvidas ainda pairam sobre seu uso e como ela pode funcionar para melhorar o dia a dia conturbado da gestão de um empreendimento.
As revoluções tecnológicas aceleraram a partir do surgimento da internet e muitas tornaram-se fundamentais para o funcionamento de diversas empresas. Imagine hoje como seria gerir seu negócio sem um computador ou o celular que está sempre em seu bolso? Com a chegada das IAs, novos recursos surgem, porém com novas incertezas.
Para elucidar algumas destas dúvidas e começar a explorar o mar aberto que é o uso de inteligência artificial na gestão de bares e restaurantes, o jornalista Danilo Viegas, do podcast O Café e a Conta, conversou com a professora Aline Sordili, da ESPM, que é especialista na área, para buscar resolver alguns destes questionamentos.
As formas de uso da inteligência artificial ainda são diversas e podem personalizadas de acordo com sua necessidade, todavia, a professora adverte da importância de sempre revisar todo o conteúdo gerado pela plataforma.
Você caracteriza a IA como criativa? Aline: Nunca use nada do que a IA te traz sem a sua própria curadoria. Afinal, o especialista é você. Você que tem que saber, né? Você só deve usar para coisas que você sabe. Você só deve avaliar se aquilo está certo ou não. E aí ela entra nesse caminho que você fala da rapidez, da produtividade, da agilidade. |
Ainda que seja uma tecnologia supostamente nova e, com isso, possa ocorrer o uso desmedido, que resulta em resultados inadequados, Aline apresenta que este é um recurso não tão novo assim, apenas se diferencia em seu modelo e difusão.
Bom, talvez então o problema não esteja na inteligência artificial, esteja na qualidade do comando, da pergunta. Exatamente. O que é uma inteligência artificial? Ela é uma tecnologia muito rápida, né? Ela existe desde os anos 50, mas só é possível hoje, viver do jeito que a gente está consumindo ela, porque temos computadores que a tornam factíveis, tornam essa tecnologia possível. Não é que ele entendeu exatamente o que você falou e vai te dar uma resposta lógica, ele é probabilístico, ele traz uma resposta em cima de um treinamento da máquina. Então dependede um contexto muito bom, de uma pergunta muito bem feita. |
Um alerta essencial é de que a IA não é uma ferramenta autônoma, ou seja, seu funcionamento passa pela necessidade de um agente humano que seja capaz de gerar os comandos e realizar a curadoria do que é apresentado.
Eu vejo muitas pessoas achando que a inteligência artificial vai pensar por si só e nós vamos aí, saindo, fazendo arte, cuidando de outras coisas enquanto as máquinas trabalham, né? Tudo ainda é muito novo, né? Ainda passa por muita supervisão e precisa passar por muita supervisão. Mesmo quando a gente fala de sistemas fechados, vamos supor que alguém aqui, dono de uma cadeia de bar e restaurante, uma cadeia grande de restaurante tem muitos dados e quer aplicar uma inteligência artificial em cima daqueles muitos dados dele, por enquanto, ainda precisa ser supervisionado, mesmo que seja fechado |
Com tantas opções no mercado que podem atender diversas funções, fica o questionamento: qual inteligência artificial utilizar? Será que centralizar todas as opções em uma ferramenta é a melhor decisão? É importante entender os caminhos possíveis a fim de tomar uma decisão assertiva.
Eu queria também falar sobre essa questão dos muitos players, Aline. Eu vejo em alguns posts no Instagram um desenho: se você quer construir texto, use o Cloud, se você quer fazer tal coisa, use o Grok, elas se esquecem justamente dessa questão de bagagem, não é uma gaveta que você abre sem pensar por que você está abrindo. Falta muito essa reflexão e falta uso. Eu não sei se isso é do brasileiro ou é do ser humano. O brasileiro quer uma solução mágica. Eu vejo isso em todos os meus cursos, em treinamentos, em empresas, mentoria individual. As pessoas querem uma solução mágica. Mas qual eu assino? Qual é melhor para mim? Qual é melhor para minha família? Olha, a gente mora lá em casa, nós somos em quatro. Não é Netflix, gente. |
Em acordo com a polêmica recente, Aline elucidou também sobre o uso de fotos geradas por IA para anúncios em delivery. A estratégia, que parece ser interessante para otimizar tempo e deixar o cardápio mais atrativo, pode surtir efeito contrário nos clientes.
Alguns restaurantes no iFood estavam usando fotos de inteligência artificial, e eu penso: se você é incapaz de colocar uma foto do seu arroz e feijão, por que você quer que a pessoa compre esse arroz e feijão, se você está ilustrando com uma coisa que é irreal? A inteligência artificial, principalmente para esse caso de imagem, é boa para quem sabe trabalhar com imagem. Para um cara de imagem, para um designer, para um videomaker, para alguém que trabalha com after, esse cara vai tirar o melhor proveito da IA e vai pegar a sua imagem e elevar à enésima potência. Porque se não, o que vai acontecer é isso que você falou, uma imagem sem personalidade, sem carisma, tosca, mal feita. |
Para o desenvolvimento de bares e restaurantes, o ponto central é o bom uso das ferramentas para a organização das informações obtidas. A partir dessa automação, é possível elaborar estratégias precisas para seu negócio.
Como que eu vou me diferenciar da concorrência ? De que forma posso desenvolver de acordo com os meus desafios próprios, assim, criar um diferencial de mercado? Vem exatamente do que você falou, de contexto. Então, vamos lá. Primeiro contexto. O seu cliente é só seu. Os dados do seu cliente você tem. Coloca as planilhas numa ferramenta: Cloud, GPT, Gemini. Coloca lá e pede para analisar e trazer os melhores insights daquela planilha por consumo, por perfil, por renda, por gasto, por dia de semana. Peça para analisar planilhas, a gente não sabe se isso vai dar certo. Seu concorrente da Esquina X está fazendo isso. |
Para entender melhor como tornar a inteligência artificial em uma aliada, além dos usos convencionais, ouça o novo episódio do podcast O Café e a Conta #124 - Aline Sordili: desmistificando a IA no mercado de food service