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Entenda como a IA pode te ajudar no mercado de food service

A professora da ESPM, Aline Sordili, tratou com Danilo Viegas sobre inteligência artificial na gestão. Foto: Lucas Bruzzi

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Durante o episódio do podcast O Café e a Conta, a professora Aline Sordili falou sobre como fazer bom uso da inteligência artificial para usufruir ao máximo desta ferramenta valiosa no processo de gestão

Gustavo Monteiro 09/10/2025 | 17:36

A chegada da inteligência artificial (IA) revolucionou o mercado como um todo e automatizou diversos processos de gestão dos bares e restaurantes, entretanto, muitas dúvidas ainda pairam sobre seu uso e como ela pode funcionar para melhorar o dia a dia conturbado da gestão de um empreendimento.

As revoluções tecnológicas aceleraram a partir do surgimento da internet e muitas tornaram-se fundamentais para o funcionamento de diversas empresas. Imagine hoje como seria gerir seu negócio sem um computador ou o celular que está sempre em seu bolso? Com a chegada das IAs, novos recursos surgem, porém com novas incertezas.

Para elucidar algumas destas dúvidas e começar a explorar o mar aberto que é o uso de inteligência artificial na gestão de bares e restaurantes, o jornalista Danilo Viegas, do podcast O Café e a Conta, conversou com a professora Aline Sordili, da ESPM, que é especialista na área, para buscar resolver alguns destes questionamentos.

B&R: Aline, havia um alarde de que em seis meses  todas as profissões iriam terminar. Se passou dois anos, nós continuamos trabalhando. Como que você enxerga o impacto da tecnologia, da inteligência artificial no empreender hoje?

Aline: A inteligência artificial não vai acabar com o que você faz. Ela vai expandir as possibilidades dentro do que você faz. Porque ela é uma tecnologia que foi treinada para ser criativa, ela é muito eficiente e pode ser bastante usada para produtividade. Ajuda a gente sair do dia a dia com um olhar diferente, buscar um novo viés para falar sobre alguma coisa, ter uma visão diferente das coisas. Eu acho isso bastante útil no dia a dia e eu vejo também a inteligência artificial como era, e por isso que eu comecei a trabalhar com isso, a internet nos anos 90. E foi dali que eu migrei de carreira para ir para o digital

As formas de uso da inteligência artificial ainda são diversas e podem personalizadas de acordo com sua necessidade, todavia, a professora adverte da importância de sempre revisar todo o conteúdo gerado pela plataforma.

Você caracteriza a IA como criativa? 

Aline: Nunca use nada do que a IA te traz sem a sua própria curadoria. Afinal, o especialista é você. Você que tem que saber, né? Você só deve usar para coisas que você sabe. Você só deve avaliar se aquilo está certo ou não. E aí ela entra nesse caminho que você fala da rapidez, da produtividade, da agilidade. 

Ainda que seja uma tecnologia supostamente nova e, com isso, possa ocorrer o uso desmedido, que resulta em resultados inadequados, Aline apresenta que este é um recurso não tão novo assim, apenas se diferencia em seu modelo e difusão.

Bom, talvez então o problema não esteja na inteligência artificial, esteja na qualidade do comando, da pergunta.

Exatamente. O que é uma inteligência artificial? Ela é uma tecnologia muito rápida, né? Ela existe desde os anos 50, mas só é possível hoje, viver do jeito que a gente está consumindo ela, porque temos computadores que a tornam factíveis, tornam essa tecnologia possível. Não é que ele entendeu exatamente o que você falou e vai te dar uma resposta lógica, ele é probabilístico, ele traz uma resposta em cima de um treinamento da máquina. Então dependede um contexto muito bom, de uma pergunta muito bem feita.

Um alerta essencial é de que a IA não é uma ferramenta autônoma, ou seja, seu funcionamento passa pela necessidade de um agente humano que seja capaz de gerar os comandos e realizar a curadoria do que é apresentado.

Eu vejo muitas pessoas achando que a inteligência artificial vai pensar por si só e nós vamos aí, saindo, fazendo arte, cuidando de outras coisas enquanto as máquinas trabalham, né?

Tudo ainda é muito novo, né? Ainda passa por muita supervisão e precisa passar por muita supervisão. Mesmo quando a gente fala de sistemas fechados, vamos supor que alguém aqui, dono de uma cadeia de bar e restaurante, uma cadeia grande de restaurante tem muitos dados e quer aplicar uma inteligência artificial em cima daqueles muitos dados dele, por enquanto, ainda precisa ser supervisionado, mesmo que seja fechado 

Com tantas opções no mercado que podem atender diversas funções, fica o questionamento: qual inteligência artificial utilizar? Será que centralizar todas as opções em uma ferramenta é a melhor decisão? É importante entender os caminhos possíveis a fim de tomar uma decisão assertiva.

Eu queria também falar sobre essa questão dos muitos players, Aline. Eu vejo em alguns posts no Instagram um desenho: se você quer construir texto, use o Cloud, se você quer fazer tal coisa, use o Grok, elas se esquecem justamente dessa questão de bagagem, não é uma gaveta que você abre sem pensar por que você está abrindo.

Falta muito essa reflexão e falta uso. Eu não sei se isso é do brasileiro ou é do ser humano. O brasileiro quer uma solução mágica. Eu vejo isso em todos os meus cursos, em treinamentos, em empresas, mentoria individual. As pessoas querem uma solução mágica. Mas qual eu assino? Qual é melhor para mim? Qual é melhor para minha família? Olha, a gente mora lá em casa, nós somos em quatro. Não é Netflix, gente.

Em acordo com a polêmica recente, Aline elucidou também sobre o uso de fotos geradas por IA para anúncios em delivery. A estratégia, que parece ser interessante para otimizar tempo e deixar o cardápio mais atrativo, pode surtir efeito contrário nos clientes.

Alguns restaurantes no iFood estavam usando fotos de inteligência artificial, e eu penso: se você é incapaz de colocar uma foto do seu arroz e feijão, por que você quer que a pessoa compre esse arroz e feijão, se você está ilustrando com uma coisa que é irreal? 

A inteligência artificial, principalmente para esse caso de imagem, é boa para quem sabe trabalhar com imagem. Para um cara de imagem, para um designer, para um videomaker, para alguém que trabalha com after, esse cara vai tirar o melhor proveito da IA e vai pegar a sua imagem e elevar à enésima potência. Porque se não, o que vai acontecer é isso que você falou, uma imagem sem personalidade, sem carisma, tosca, mal feita. 

Para o desenvolvimento de bares e restaurantes, o ponto central é o bom uso das ferramentas para a organização das informações obtidas. A partir dessa automação, é possível elaborar estratégias precisas para seu negócio.

Como que eu vou me diferenciar da concorrência ? De que forma posso desenvolver de acordo com os meus desafios próprios, assim, criar um diferencial de mercado? 

Vem exatamente do que você falou, de contexto. Então, vamos lá. Primeiro contexto. O seu cliente é só seu. Os dados do seu cliente você tem. Coloca as planilhas numa ferramenta: Cloud, GPT, Gemini. Coloca lá e pede para analisar e trazer os melhores insights daquela planilha por consumo, por perfil, por renda, por gasto, por dia de semana. Peça para analisar planilhas, a gente não sabe se isso vai dar certo. Seu concorrente da Esquina X está fazendo isso. 

 

Outro caso de uso: Quais são as tendências de gastronomia, de consumo de bebida, de consumo de comida no mundo? Ele vai rodar pesquisas profundas e vai trazer isso e vai te devolver. Como você vai usar isso para se diferenciar? Você também pode pedir ajuda para ele. Mas são coisas que você pode fazer e sabe fazer e sabe usar de um jeito. Talvez o seu concorrente não saiba. Ele pode estar usando para responder e-mail.

 

Para entender melhor como tornar a inteligência artificial em uma aliada, além dos usos convencionais, ouça o novo episódio do podcast O Café e a Conta #124 - Aline Sordili: desmistificando a IA no mercado de food service

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