O mercado de alimentação fora do lar (food service) lida com inúmeros desafios e as inovações tecnológicas têm caminhado de mãos dadas na direção de enfrentar esses gargalos. Acompanhamos o setor aplicar novos sistemas de gestão, atendimento personalizado com dados, tecnologias de pagamentos como o QR Code e o pix, inteligência artificial em diferentes frentes e ainda a consolidação dos apps de delivery.
É nesse contexto que a oferta de soluções de tecnologias robóticas entra na rotina dos donos de bares e restaurantes. Um dos maiores desafios do setor tem sido as dificuldades de contratação de mão de obra qualificada e para isso, grandes empresas tem feito suas apostas.
Célio Salles, empresário e membro do Conselho Administrativo da Abrasel, destaca: "Essa escassez gera a busca por produtividade dos empresários: como é que eu posso fazer para a minha equipe produzir mais com menos? Ou seja, equipamentos que eliminem processos desnecessários. Um desses recursos é a robótica e a informática".
Os robôs de serviço, aqueles que não atuam dentro do ambiente industrial, têm sido utilizados no varejo por franquias gigantes como o Bob's. Em uma loja em Ipanema, no Rio de Janeiro, um robô prepara na frente do cliente um milkshake crocante clássico.
Ao veículo Valor Econômico, Ricardo Bomeny, presidente da Brazil Fast Food Corporarion (BFFC), empresa que opera com Bob’s, Pizza Hut, KFC e outras franquias no Brasil, diz que estão em fase de testes com o novo produto. "Estamos experimentando a tecnologia, que foi desenvolvida por uma empresa nacional".
Os robôs também têm circulado no mercado de delivery brasileiro. Quem frequenta a praça de alimentação do Shopping Iguatemi Alphaville, em Barueri, São Paulo, pode cruzar com a ADA, o robô que retira pedidos de comida nos restaurantes e leva até onde os entregadores do iFood recebem os pacotes.
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Atualmente, são quatro robôs em atuação pela gigante do delivery brasileiro nos shoppings Iguatemi Alphaville e Galleria, em Campinas–SP. Em entrevista para o portal Valor Econômico, Mariana Werneck, diretora sênior de logística no iFood, declara:
"O uso de robôs reduz o tempo que o entregador gastaria para entrar no shopping, localizar o restaurante e retirar o pedido, além de diminuir o tempo de entrega para os clientes. A ideia é chegar a mil robôs até 2030."
No Brasil, o último levantamento sobre o número de robôs em atuação é de 2019 e registrou 15,6 mil unidades, considerando braços robóticos, cobots (robôs colaborativos), miniaturizados, humanoides de serviços e autônomos móveis. A estimativa é que atualmente sejam cerca de 25 mil.
Os estudos ilustram uma presença considerável de robôs no mercado, mas será que a tecnologia robótica está próxima da realidade dos empreendedores brasileiros?
O que muda para o seu restaurante?
No caso do braço robótico que prepara milkshakes na loja do Bob's, a empresa não é dona do equipamento e o valor do aluguel soma R$ 10 mil mensais. Segundo Bomeny, a intenção do primeiro momento é instalar o robô em apenas mais duas ou três lojas da rede, que deve fechar o ano com 1130 unidades em solo brasileiro.
O experimento robótico acionado pelo Bob's sinaliza uma tentativa de diminuir os desafios da escassez de mão de obra, buscando solucionar um dos grandes gargalos do mercado. Mas, ao mesmo tempo, apresenta um custo elevado pela manutenção do equipamento e limitações na usabilidade. Segundo Salles, "o braço que o Bob's paga aluguel faz aquele movimento de fazer o milkshake, mas se você quiser que ele faça outra coisa tem que reprogramar a máquina e ele ainda é fixo".
Dados da pesquisa Trends Ecossistema, publicada no segundo semestre de 2025, apresentada pela Galunion, empresa especializada no mercado de alimentação fora do lar, destaca que 2% das redes de franquias do mercado adotam robôs de salão. Esse número corresponde a 16% das 3,3 mil marcas franqueadoras. A CEO da Galunion, Simone Galante, destaca:
"Quando se trata de foco do investimento nos próximos dois anos, a parte de robótica e equipamentos culinários high tech ainda é acanhada: 6% das redes têm intenção, 4% dos fornecedores e 2% entre os independentes."
Essa ascensão do uso da tecnologia robótica sinaliza um movimento de profundo interesse no varejo e em grandes empresas, porém algo distante da realidade cotidiana dos donos de bares e restaurantes brasileiros de pequeno e médio porte.
"São estruturas complicadas, complexas e cheias de questões e problemas. Uma linha de fritura de batata custa 50 mil dólares. Ainda é uma tecnologia em desenvolvimento e exige maturidade. Não é que não funcione, mas ainda apresenta problemas. Os valores são muito altos e distantes dos empresários comuns", descreve Salles.
Mesmo diante de boas intenções, o acesso à tecnologia robótica apresenta-se como uma alternativa para poucos. Segundo o representante da Abrasel, o desejo é que esse acesso se expanda: "Queremos muito que isso aconteça, mas me parece muito distante. A busca por produtividade começa mais de baixo. Por enquanto, para um típico restaurante isso parece inacessível", sinaliza.
Para o empreendedor de bares e restaurantes no Brasil, vale acompanhar as novidades com os pés no chão.
