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E agora, tudo é IA?

Cada vez mais restaurantes utilizam inteligência artificial para imagens que representem seus produtos.Foto: Gerada por IA (Gemini)

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Saiba como aplicar as tecnologias da IA no seu negócio, mas sem “esfriar” o relacionamento com o cliente. Conheça as principais armadilhas e os benefícios de unir a inteligência artificial, processos e pessoas.

Yasmim Paulino 13/10/2025 | 17:59

Os avanços da tecnologia no decorrer do tempo sempre despertaram grande receio da humanidade. Não à toa, essa espécie de pesadelo coletivo é tão replicada em roteiros cinematográficos ao redor do mundo, desde a clássica sequência de Matrix, que bombou em 1999, até Black Mirror, série que estreou em 2011 e lança temporadas até hoje.   

Com a popularização do uso da inteligência artificial (IA), em todos os setores econômicos, o receio de que a presença humana no trabalho desapareça e seja substituída pelas máquinas começa a reverberar ainda mais forte. Para o setor de bares e restaurantes, não tem sido diferente. Tão reconhecidos por proporcionarem encontros e serem espaços de memória afetiva e histórica, a ideia de que o contato humano pudesse ser substituído descaracterizaria todo o setor. 

A CEO da Galunion, empresa de consultoria em food service, Simone Galante, destacou um ponto crucial da perspectiva do gestor para o comportamento do cliente no Brasil. “O consumidor brasileiro é digital e exigente, mas também muito relacional. Ele valoriza agilidade, praticidade e conveniência, mas não ‘abre mão’ de ser bem atendido. Esse equilíbrio entre tecnologia e calor humano precisa estar no centro das decisões dos gestores”. 

Simone Galante, compartilha pesquisas valiosas sobre o comportamento do consumidor brasileiro coletadas pelas ferramentas da Galunion. Foto: Arquivo Pessoal 

De fato, a IA já tem se apresentado como uma grande aliada em muitas cozinhas e na gestão de bares e restaurantes. Utilizar os seus recursos para melhorar a experiência do consumidor e simplificar operações tem se tornado indispensáveis para muitos gestores. O chef Jonas Romero, referência na aplicação da IA para organização de fluxo operacional e processos de cozinhas, explica a relação entre essa tecnologia e o dia a dia no negócio: “A inteligência artificial atua como uma extensão da nossa análise e tomada de decisão, especialmente quando falamos de fluxo operacional, controle de produção e dimensionamento de estrutura. Na prática, ela acelera o levantamento de dados e a interpretação de relatórios que, manualmente, levariam horas para serem processados”

O relatório Radar Galunion Tech Foodservice Brasil 2025, apresentadas por Galante, evidencia que “os operadores mais bem-sucedidos estão aplicando tecnologias de IA e automação não só para reduzir custos, mas para criar jornadas mais fluídas e personalizadas. O segredo está na integração: pessoas, processos e tecnologia atuando de forma complementar”, destaca a CEO sobre o relatório. 

Existe um consenso entre especialistas sobre o uso da IA para melhorar a gestão do setor como uma ferramenta potencializadora. Mas o uso da tecnologia de maneira equivocada e exagerada tem se tornado um erro comum praticado por empreendedores do setor. Fotografias de pratos geradas por IA para anunciar seu restaurante no iFood, atendimento automatizado sem supervisão ou práticas que tentam simplesmente substituir pessoas, tem se mostrado prejudiciais ao seu negócio e podem “esfriar” a relação com o cliente.   

IA no cardápio? 

Aplicar recursos da IA pode acabar se tornando um grande problema quando utilizado sem supervisão humana, sensibilidade ou quando busca apenas substituir pessoas. Fundador do projeto The Kitchens, Romero diz que o uso da IA tem revolucionado seu trabalho na cozinha, mas precisa ser reconhecida como apoio e não protagonista.  

Romero é gastrólogo com MBA em Gestão de Alimentos e Bebidas e acumula mais de 15 anos de experiência no setor de food service. Foto: Arquivo Pessoal

“A inteligência artificial precisa ser vista como aquilo que ela realmente é: uma ferramenta poderosa, sim, mas ainda assim programável. O grande erro é esperar dela algo que só o ser humano possui: empatia, intuição e sensibilidade no atendimento”, esclarece o chef. 

Um dos usos mais comuns da IA é na geração de fotos de itens do cardápio para servirem de demonstração em aplicativos de delivery. A prática não é, necessariamente, proibida e não chega a ser um problema, mas também não é a melhor aposta. Caso a imagem divulgada no aplicativo não corresponda ao que realmente é servido pelo restaurante, o caso fere o Código do Direito do Consumidor (CDC). Luiz Lana, professor e coordenador de Inteligência Artificial na PUC Minas, destrincha o assunto.  

“Se uma imagem gerada por inteligência artificial exagerar o prato deixando-o mais chamativo do que de fato ele é, mudando a característica dos produtos pode, sim, configurar uma propaganda enganosa. O próprio Código Brasileiro de Autorregulamentação da Publicidade, o Conar, ensina que anúncios não devem induzir o cliente ao erro. O limite ético é a honestidade. A foto tem que ser coerente com o prato real”, detalha o professor. 

Para muitos, utilizar as fotos artificiais pode significar uma redução de custos, já que não será necessária a contratação de um profissional para realizar as fotos dos pratos. Mas, na maioria das vezes, apostar em imagens reais pode gerar mais confiança no cliente por mais “simples” que a fotografia transpareça. 

“Na minha experiência, fotos autorais de qualidade, sejam reais ou aprimoradas pelo uso de inteligência artificial, costumam gerar mais confiança. E aí, estamos falando de mais clique e, nesse sentido, mais vendas também”, pontua Lana.  

Se o cliente perceber que o produto não é coerente com as imagens divulgadas no aplicativo, ele pode exigir a devolução do valor investido e até denunciar o caso ao Procon. Além do âmbito jurídico que pode complicar a situação, Romero traz outra dimensão, alegando que “essa atitude não é apenas uma questão estética: é uma quebra de confiança com o cliente”. Muitas imagens sequer soam bonitas ou visualmente atraentes, o que transmite cada vez menos confiabilidade ao cliente.  

Lana finaliza destacando que não condena o uso da geração de imagens artificiais e tem o hábito de praticar no cotidiano para usos diversos. “É válido usar a inteligência artificial para dar um acabamento mais profissional a uma foto, seja para melhorar a iluminação ou enquadramento do prato, mas não para criar falsas expectativas."

Confira dicas para realizar um bom uso de IA em seu restaurante no texto completo "E agora, tudo é IA?" disponível completo na edição 165 da Revista B&R

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