Você já sabe, mas não custa nada reforçar: o delivery brasileiro está mudando de cara — e rápido. A chegada da chinesa Keeta, com um investimento de US$ 1 bilhão, e a retomada da 99Food, agora sob comando da Didi Chuxing, com mais R$ 1 bilhão na mesa, não são apenas boas notícias para o consumidor. São um sinal claro de que o jogo ficou mais complexo para quem está do lado de dentro da cozinha.
O iFood continua sendo o gigante da vez, com uma operação que cobre 1.500 cidades, 55 milhões de clientes e uma base de restaurantes que já ultrapassa os 380 mil. Mas agora ele não está mais sozinho. E isso muda tudo.
Para o empresário, a pergunta que importa não é “qual plataforma vai vencer essa corrida?”. A pergunta certa é: “qual delas faz sentido para o meu negócio?”. Porque, no fim das contas, talvez não seja o aplicativo o que define o sucesso do restaurante — e sim a estratégia por trás dele.
E aqui vai um segundo alerta óbvio: escolher a plataforma de delivery não pode ser como escolher ingrediente por impulso no mercado. É preciso método. É preciso entender onde está o seu cliente, quanto custa cada pedido e o que você está ganhando — ou perdendo — em cada canal.
Vamos aos pontos que realmente fazem diferença:
1. Não se deixe enganar pela taxa de comissão.
A taxa é só a pontinha do problema. Tem o custo das promoções obrigatórias, dos cancelamentos, da logística reversa, do tempo de atendimento e até do suporte técnico. Faça as contas direito. Use os dashboards das plataformas para entender o que sobra no fim do dia. Margem saudável não se mede só com o preço do prato.
2. Escolha a plataforma que fala a língua do seu cliente.
O iFood é forte nos grandes centros e nos pedidos por impulso. A Keeta vem com foco em logística eficiente e preços agressivos, mirando regiões em crescimento. A Rappi atrai quem quer resolver tudo num só lugar — comida, farmácia, mercado. Entenda quem é seu público e vá onde ele está. Não adianta estar em todos os apps se ninguém te encontra.
3. Use os dados como bússola, não como desculpa.
As plataformas oferecem dados valiosos: tempo de preparo, avaliação dos pratos, comportamento de compra. Mas muitos empresários só olham para esses números quando o resultado é ruim. Mude isso. Use os dados para antecipar problemas, testar horários, ajustar cardápio. A tecnologia está aí — o que falta é usar com inteligência.
4. Promoção boa é aquela que melhora o caixa.
Não jogue pratos em promoção só porque o concorrente está fazendo. Monte combos com os pratos mais vendidos, teste horários alternativos com entrega grátis, experimente precificação dinâmica. O programa Hits iFood, por exemplo, mostra que pratos acessíveis em horários ociosos podem aumentar a receita em até 32%. Mas isso só funciona com método.
5. Prepare sua equipe para o delivery.
Desculpem-me a insistência, aqui vai maaaais uma obviedade: delivery não é só mandar comida. É atendimento remoto, embalagem bem feita, tempo de preparo ajustado, comunicação com o cliente. Invista em treinamento.
A entrada das plataformas chinesas pode trazer mais opções, mais tecnologia e até melhores condições. Mas também pode aumentar a dependência dos restaurantes em relação a empresas que ditam regras, mudam algoritmos e controlam o acesso ao cliente.
O delivery virou um campo de disputa — e o restaurante precisa deixar de ser passageiro para assumir o volante. Quem não fizer isso corre o risco de ficar preso a um modelo que não controla, com margens cada vez mais apertadas e pouca autonomia.
Não se trata de escolher o app mais famoso. Trata-se de escolher o caminho que faz sentido para o seu negócio. E isso versa com algo que deveria estar principalmente dentro do seu restaurante: gestão.