Fora do lar, dentro do negócio
Última edição

O que a entrada da Keeta muda no delivery brasileiro

Frente internacional da gigante chinesa Meituan iniciou suas operações em Santos e São Vicente no dia 30 de Outubro. | Foto: Reprodução/Meituan

Tempo de leitura 5

O mercado de delivery brasileiro vivencia uma verdadeira revolução em suas operações. Veja como as mudanças no cenário podem impactar os empreendedores do mercado de alimentação fora do lar

Danilo Viegas 31/10/2025 | 15:16

A essa altura, você já sabe que o mercado brasileiro de delivery vive uma reconfiguração estrutural que vai muito além da entrada de um novo concorrente. 

Essa disputa entre gigantes como iFood e Keeta não é apenas uma corrida por participação de mercado — é um reflexo da transição do delivery de serviço para infraestrutura. Trata-se de uma mudança de paradigma na forma como os restaurantes se relacionam com as plataformas, com os consumidores e com seus próprios dados.

Nesse novo cenário, quem não dominar os canais, os dados e a experiência, corre o risco de se tornar refém da tecnologia que deveria impulsionar seu negócio. Com um investimento inicial de R$5,6 bilhões em cinco anos e o respaldo da gigante chinesa Meituan, a Keeta se posiciona como uma candidata séria a romper o domínio quase absoluto do iFood, que hoje concentra cerca de 80% dos pedidos realizados por aplicativos no país.

O discurso de Tony Qiu, CEO da Keeta no Brasil, é direto: “Vamos usar nossa expertise para brigar com o iFood”. A frase, embora provocativa, revela uma estratégia que vai além da retórica.

A empresa pretende aplicar o modelo que a tornou líder na China — onde realiza mais de 80 milhões de entregas por dia — apostando em tecnologia de ponta, inteligência logística e uma política agressiva de incentivos para restaurantes e entregadores.

Mas o Brasil não é a China. E o mercado brasileiro de delivery, embora em expansão, carrega especificidades que desafiam qualquer tentativa de replicação direta. Estima-se que cerca de 150 milhões de pedidos sejam feitos mensalmente no país por meio de plataformas digitais, e um volume equivalente por outros meios. Isso revela uma oportunidade para crescimento do consumo por aplicativos.

Mais do que uma nova plataforma, a Keeta traz consigo uma visão de negócio baseada em dados, automação e escala. Se conseguir adaptar essa lógica ao contexto brasileiro, respeitando a cultura dos pequenos negócios, a informalidade das operações e a complexidade logística das cidades, poderá, de fato, inaugurar uma nova era no delivery nacional.

E você com isso?

Para bares e restaurantes, a chegada da Keeta pode representar uma oportunidade estratégica — desde que seja encarada com cautela. A promessa de taxas menores e maior rentabilidade é sedutora, sobretudo em um cenário onde as comissões cobradas pelas plataformas giram entre 20% e 27%

A entrada da Keeta pode pressionar o iFood a rever suas políticas comerciais, o que seria benéfico para os operadores do setor. Mas também pode gerar instabilidade, fragmentação da base de clientes e uma nova dependência de incentivos temporários.

Em outras palavras, o risco é que a disputa entre gigantes acabe por desorganizar o ecossistema de pequenos e médios negócios, que já operam com margens apertadas e alta volatilidade de demanda.

Este texto tem caráter opinativo. As ideias e conceitos expressos no artigo são de inteira responsabilidade do autor. 

tags

Assine gratuitamente nossa newsletter

E descubra os segredos dos melhores bares e restaurantes!

Ao enviar seus dados, você concorda com os Termos e Condições e Políticas de Privacidade do Portal B&R.

Relacionados