Em uma das apresentações mais aguardadas do 37º Congresso Abrasel, o CEO do iFood, Diego Barreto, detalhou a visão estratégica da empresa que, junto aos restaurantes, já movimenta uma cadeia de R$ 140 bilhões, o equivalente a 0,6% do PIB brasileiro, e atende mais de 55 milhões de consumidores ativos.
Além de apresentar os recentes produtos lançados pela plataforma, Barreto desenhou um futuro o qual o crescimento dos restaurantes está diretamente ligado à criação de novas ocasiões de consumo e a um ecossistema de dados inteligente. Para os donos de bares e restaurantes, a palestra foi uma aula sobre como pensar além da transação e focar no comportamento do consumidor.
O jogo da frequência
O primeiro grande ensinamento de Barreto foi a mudança de foco estratégico da empresa: da aquisição de clientes para o aumento da frequência. Após atingir a marca de 55 milhões de usuários ativos, o desafio deixou de ser apenas trazer mais gente para a plataforma e passou a ser fazer com que cada pessoa peça mais vezes.
Se eu estresso [o óbvio] no limite, ele vira vantagem competitivaDiego BarretoPara isso, a filosofia é "estressar o óbvio": focar incansavelmente naquilo que o cliente sempre vai querer, preço baixo, entrega rápida e variedade. Essa obsessão pelos fundamentos é a base para construir a fidelidade que gera a frequência.
Destravando novas ocasiões
A forma mais eficaz de aumentar a frequência, segundo o CEO, é "destravar" momentos de consumo que hoje são pouco explorados no delivery. Ele apresentou dois produtos criados exatamente com esse fim:
iFood Hits: descrito como "um produto, não uma promoção", o Hits foi desenhado para o almoço do dia a dia da classe C, oferecendo pratos com ticket médio baixo e taxa de entrega grátis. O objetivo é transformar o delivery de uma "indulgência" de fim de semana em um hábito de segunda a sexta.
iFood Turbo: com a promessa de entrega em até 20 minutos, o Turbo atende a uma necessidade específica: o cliente com pressa. "A necessidade, neste momento, não é a comida, é o tempo", explicou. Ao garantir essa entrega ultrarrápida com 99% de assertividade, o iFood cria uma solução para quem antes não considerava o delivery uma opção por restrições de horário.
O poder do ecossistema iFood
O movimento mais disruptivo apresentado foi a construção de um ecossistema de dados através de parcerias e aquisições (Uber, Decolar, Sympla, CRM Bônus). Barreto foi enfático ao dizer que o objetivo não é "ser grande", mas gerar um valor único e impossível de ser copiado.
Eu preciso trocar dinheiro por geração de valor, por um negócio único, que cria vantagem competitivaDiego BarretoEle deu um exemplo prático e poderoso que já está em teste: a funcionalidade "Comer Fora". Ao entrar em um shopping, o sistema identifica o cliente e seu perfil de consumo. Essa informação é enviada em tempo real aos restaurantes do local, que podem decidir enviar um cupom ou benefício personalizado para atrair aquele consumidor específico para o seu salão. A lógica é simples: usar a inteligência de dados para levar o cliente do online para o espaço físico, gerando vendas incrementais para o restaurante.
Para Barreto, o propósito final da empresa é ser uma ferramenta de expansão para o setor. Seja ajudando um restaurante a ocupar sua capacidade ociosa com o delivery ou permitindo que um empresário teste um novo mercado com baixo risco antes de um grande investimento, a meta é clara: crescer para fazer o ecossistema inteiro crescer junto.
Perguntas e Respostas com o CEO do iFood
José Eduardo Camargo (Abrasel): Qual o posicionamento do iFood sobre as críticas de que a flexibilização do seu programa de benefícios prejudicou os restaurantes e qual o status da negociação para aquisição da Alelo?
Diego Barreto: Iniciamos nosso programa de benefícios porque os players da época não queriam se integrar à plataforma. De fato, oferecemos um modelo flexível que foi alvo de críticas válidas do setor, e nós ouvimos. Para gerar mais valor à indústria de restaurantes, mudamos nossa posição e essa prática não existe mais. Hoje, o benefício é direcionado corretamente para cada finalidade. Sobre a Alelo, por razões estratégicas, não posso comentar o assunto.
José Eduardo Camargo (Abrasel): Como o iFood vê o futuro do delivery de vinhos na plataforma? É uma categoria viável?
Diego Barreto: Sim, é uma das nossas principais frentes de inovação. Após dois anos de testes, encontramos um modelo de sucesso ao entender que a lógica de compra de bebidas é diferente da de comida. Um rótulo de vinho é o mesmo em qualquer lugar, ao contrário de um prato. Com base nisso, desenvolvemos uma nova interface no aplicativo que, nas cidades-piloto, dobrou as vendas da categoria em três meses. Esperamos que esta seja uma das grandes novidades que anunciaremos no próximo ano.